MENOS UM
Era mais um dia cinzento e frio. Lá estava ele, outra vez, sozinho, fraco e cambaleante de tanta fome e sede, na maior solidão e abandono. Andava sem destino e sem rumo, porque casa, não tinha mais, pois o enxotaram com uma forte paulada, deixando-o aleijado. Mas, era tão corajoso e valente, que com toda essa violência, nunca se deixava abater, porque de raízes e gravetos secos tirava seu alimento.
Eu até queria ajudá-lo de alguma forma, mas, ao contrário dele, impotente pela falta de coragem, deixei que os dias fossem passando. Dois meses se findaram, e eu sofrendo com o sofrimento dele. Até que não agüentei mais, me armei de vontade e fui buscá-lo na rua. A princípio foi difícil, fugia desesperado, pensando que seria, novamente, espancado. Mas, com muito jeito e carinho, consegui pegá-lo no colo e trazê-lo para dentro, onde logo lhe dei uma casinha, comida e água, coisas que já nem sabia o que eram.
E assim, aos poucos, foi recuperando as forças, a confiança nas pessoas e a vitalidade, sendo que hoje é o meu melhor amigo.Corre feliz pelo grande jardim e quintal, apesar de sua deficiência, sempre trazendo na boca sua bolinha vermelha, para que alguém a jogue novamente. Seu nome é Giraia, porque nunca fugiu da raia, meu cãozinho valente e guerreiro. Caso contrário, não teria sobrevivido a tanto padecer.
Por isto, nunca se deixe levar pelo preconceito e pedigree. E toda vez que encontrar um cão abandonado, pense no grande amigo poderia estar ao seu lado.
Jopeca Rieu