Na espera
Sempre esperamos algo da vida... Esperamos decisões, acontecimentos, amores, reconhecimento, vingança... Esperamos recuperação, cooperação, compreensão, promoção... Esperamos de um tudo, porque nossa natureza não vive o instante e sim, de expectativas.
Temos consciência plena de nossa finitude. Porém, não conseguimos conceber que o momento passado, foi o momento alcançado. Depositamos todas nossas fichas na aposta que o futuro certamente nos reservará algo melhor. E assim, ficamos prisioneiros naquele espaço de tempo indefinido, olhando para a beleza do horizonte inalcançável, enquanto nossos pés descansam sobre verdejantes prados. Não valorizamos nossas pequenas conquistas.
Há também quem acredite, que não se tem tempo a perder. Passam a vida filtrando o que pode ou não ser aproveitável. Descartam tudo o que se desvia; o trivial. E na pressa por viver, atropelam amigos, família, e quem mais cruzar o caminho. Chupam lexotan como bala, e nem assim adianta... A sensação de estar correndo atrás da máquina jamais cessa.
Derivativa da espera, a esperança serve como lenitivo da angústia causada pelas incertezas de nosso destino. Esperança, é o nome que se dá a probabilidade do irreal, ou do irrealizável e é proporcional às nossas necessidades. E ela está aí, dentro de cada um de nós, tão vital quanto um coração.
G.W. Bush têm a esperança de livrar o mundo dos inimigos da nação norte americana, meu vizinho têm esperanças de um dia tocar bem bateria, eu tenho esperanças de fazer aquela tão sonhada viagem pra Fernando de Noronha, e o povo brasileiro... Ãããh... Melhor deixar pra lá.
Como diz o ditado popular: - ´´ Quem tem esperança, tem paciência``. Paciência constitui uma das seis perfeições humanas para os princípios budistas. Ela torna qualquer espera menos angustiante, menos aflitiva; e nos mantém firmes, numa espécie de standby perceptivo. Paciência, é o que impede a espera de tornar-se desesperante.
Nossa paciência é constantemente testada. Cada vez que o governo anuncia um pacote de aumentos tarifários, cada vez que alguém te fecha no trânsito, cada vez que você liga para um serviço de atendimento ao cliente, ou o grupo É o Tchan lança um novo CD; seu corpo ativa a paciência, impedindo que se perca a razão.
Você gostaria de saber o limite da sua paciência? Pois então, vá num supermercado lotado em um sábado a tarde. Se você conseguir suportar por mais de 2 minutos lá onde a verdadeira natureza humana se revela, considere-se sereno como uma rocha. Porém, o Ministério da Saúde adverte, esta prática pode provocar o pecado da ira, condenando assim sua alma a naufragar eternamente no Éstige da danação.
Mas nem toda espera exige paciência ou nos leva ao desespero. Algumas esperas, podem ser tão ou mais prazerosas quanto os objetivos pretendidos. Numa das imensas filas de atrações da Disney, Leonardo e Wilma se conheceram e conversaram animadamente. No maior engarrafamento da história de São Paulo, Bernardete cantou com o rádio What a Wonderful World em dueto com Louis Armstrong. Nas filas bancárias, li o visionário romance Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley. Numa prainha de Santa Catarina, seu Mario, pescador experiente, aguardou o dia passar, olhando para a imensa grandeza do mar tomando uma cerveja gelada.
Se nos dermos conta que a vida, é uma longa espera entre o nascer e morrer, talvez tenhamos a real percepção de que nosso tempo é transitório, e talvez possamos nos dar conta que por mais que nos angustie, esta espera pode ser bastante divertida e proveitosa.
Ramiro de Souza