CONFESSO QUE NÃO VI

Sete malas de dinheiro, dólares na cueca, grampos, olho roxo, tudo dinheiro que sai do nosso bolso sem a gente ver. Nos impostos embutidos, nos descontos de salário, na CPMF safada. Sete malas de dinheiro, dólares na cueca são a viagem que não fizemos, o curso que interrompemos, o doente que morreu na fila, o projeto que morreu na praia, a loja que fechou, a bolsa de estudos que não saiu, o bebê que morreu, o celular que sumiu, o dente que falta na boca, o espaço que falta na casa, o doce que falta na geladeira, os filhos que não pude ter, e tudo que tivemos que vender.
Agora acabou. Não tenho mais vinte anos para esperar vinte anos a esquerda poder. Não há mais esquerdas, honestidade é a palavra rica. Por isso fico azeda. Amarga, aflita. Vocês tiveram o remo do mundo e, fracos, deixaram-se levar pela correnteza do "foi sempre assim". Faltaram coragem, ideais e sonhos.
Vocês já estão é muito gordos, papudos, papadas nos olhos, papando tudo. Demorou tanto que perderam o encanto, ficaram velhacos, uns cacos.
Olha, Presidente, não queremos apenas notícias, transparências, justiça e apurações. Queremos de volta todos os nossos suados tostões.

Glória Horta

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