De monossílabos, ofícios e estrangeirismos
Venho por meio desta, solicitar ao ilustríssimo leitor que repare a melosa verve proferida nos ofícios e outros comunicados formais. Aquele ar desnecessário de súplica pedinte com o desfecho massageador do alter-ego. “Sem mais para o momento, reitero votos de elevada estima e distinta consideração”. Por trás da “especial gentileza e dos bons préstimos” há outras digressões de sinceridade duvidosa.
Duvidosa é a extraordinária bagagem, como educação de berço, comunicabilidade e facilidade de expressão de muitos jovens. A linguagem e os diálogos vão se reduzindo a monossílabos. Só, aí! Né? Beleza, jóia, bacana. Na moral. Demorou. Fala sério! Qual é? Falou! Outras vezes a palavra fica ainda reduzida a grunhidos, resmungos e pequeninos sons tão curtos quanto uma nota batida num metalofone.
Agora veio um insight en passant de falar sobre a invasão de palavras estranhas ao nosso vocabulary . Outro mal que assola o nosso português e dilacera a cultura da nossa pátria: o estrangeirismo. Acha que não? Leia a hipotética história:
Maurício está com stress . Apesar de ser um jovem muito massa e cool , com know-how e metido a intelectual pelo simples fato de gostar de nouveau swing no Free Jazz , teve um workshop com um expert em marketing , mas chegou atrasado para o breakfeast . Não adiantou culpar o rush . Ainda bem que o brunch do point era light . Tinha saído de casa sem o milk - shake matinal. Procurou um restaurante self - service , mas não havia nenhum por ali. O jeito era um hambúrguer no fast - food , ou qualquer comida do menu . Decidiu que se plugaria na net para pedir uma pizza no serviço de delivery . Comeu e tomou um drink assistindo a MTV . O dia deveria melhorar. Comprou uma roupa fashion num sale do shopping , e nem precisou pechinchar com nenhum outro promoter . Na volta, outro rush esquentou seus nervos. Pelo menos pôde apreciar um anúncio de um outdoor . Era uma mulher de biquíni e quase topless , anunciando um milagroso produto new standart para emagrecer e deixar o corpo top , sem o abuso de alimentos diet , sem o cansaço dos personal trainers e sem praticar o body pump . O s logan era perfeito. Foi lendo os anúncios de buffet . Novos carros com airbags e CD-players de fábrica. Marcou um encontro pelo celular com uma garota num open bar e correu como se quisesse bater o record ou chegar na pole position . Acabou batendo o carro e, mesmo tomando um táxi, chegou atrasado pro happy hour . E ainda teve que pagar o cover artístico!
“Yes, nóis fala ingrêis procês traveis!” E seguem os “tijolos gráficos e prosódicos” agredindo a índole da língua portuguesa. Caberia aqui um manifesto, um protesto contra o estrangeirismo indigesto, mas estou chegando na dead-line da crônica. Está dado o recado e enfatizado, por mais que esteja enfadado. Passo a bola para frente (sem jogar foot-ball ). The End!
Leonardo Teixeira