Ao velho guerreiro e os Arraes
Morreu a semana passada mais um Arraes. Para toda a população era o velho ex-governador da esquerda, respeitado e que lutou por sua bandeira, foi exilado e morou no exterior até que anistia se instalasse.
Para mim era sim o velho guerreiro, que viveu na casa de meu avô quando estudava direito e muito antes que eu pensasse em nascer. No entanto mais um Arraes que se foi. Que me faz lembrar também outros parentes queridos e principalmente meu avô.
Não o digo por orgulho, mas porque aprendi muito nessa família em que nasci, e não posso deixar de creditar a eles parte de meus conhecimentos, amor pela vida e perseverança nos meus sonhos por mais difíceis que sejam. Realmente não posso
Por isso, ainda tão perto da morte desse velho guerreiro quero prestar minha homenagem à toda à família e declarar como tem sido importante e um privilégio ter vindo ao mundo proveniente desse clã , não por seu nome e importância mas pelo legado moral, pelo amor que era e continua sendo a base de sua missões, fé nas pessoas e no mundo e esperança de dias melhores para o Brasil e para o mundo.
Foi isso que aprendi desde muito pequena, cercada pelos Arraes mais velhos, mas que constituíam exemplos no mundo em que me criei.
Isso me faz recordar também de outro tio Arraes, falecido há pouco mais de um ano reformado muito jovem pela revolução e que era para mim e acho que para todos que o conheceram um exemplo de humanismo e dignidade.
Talvez eles tivessem vivido num tempo de menos tecnologia, é verdade, mas de muito mais consciência do amor entre as pessoas, da solidariedade, da compreensão dos objetivos mútuos e da necessidade extrema de se aprofundar quando se tratasse da alma humana. Assim como muitas pessoas que foram seus contemporâneos.
Miguel Arraes morreu sofrendo bastante, com idade avançada, mas certo do dever cumprido, em seu coração perpetuado. Sua cultura realmente vasta pôde ser expandida no exterior e o Brasil perdeu muito por isso. Não esquecerei nunca dos comentários da família sobre uma frase de Miguel que marcou profundamente a todos que o amavam: “Estou saindo pela porta dos fundos do palácio e voltarei pela porta da frente”. A sua promessa foi realizada. Ele voltou eleito pelo povo e cumpriu sua previsão.
O tempo de Miguel Arraes acabou, mas o que será a vida se nos recusarmos a cumprir uma missão?O que vale viver se não pudermos ter um ideal, sonhos efetivos, o caminhar firme na direção de nossas convicções? E foi exatamente isso que ele fez.
Quero concluir essa pequena homenagem agradecendo publicamente a essas pessoas que tão bem fizeram na sua estrada e que deixaram modelos de vivência extraordinária, alegria e fé nos momentos mais difíceis e o fruto do exemplo que ficou para os descendentes.
E que Miguel Arraes de onde estiver abençoe principalmente os políticos que nesse momento estão perdidos num mar tempestuoso de dúvidas cívicas e oriente o momento difícil pelo qual o Brasil atravessa. Velho guerreiro vá em frente nessa luz que deve estar brilhando intensa em sua nova caminhada! Saudades!
Vânia Moreira Diniz