A LOUCA SOLITÁRIA

Como é bom morar sozinha! Tive esta certeza durante alguns minutos.
Hoje quando cheguei em casa,  após viajar 80 km sob o sol escaldante de um dia de verão. Suada dos pés a cabeça. Entro em casa, tiro toda a roupa, me jogo sobre a cama, com o ventilador direcionado sobre mim.
AAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHH! Coisa boa! Delícia de vida essa. Ninguém pra reparar, ninguém pra bronquear. Só eu e eu. Mas tudo o que é bom dura pouco, não é?
Depois de uns 5 minutos nesta posição ouço a campainha. Uma vez, 2, 3, 4, 5............
— Já voooooooooooooouuuuuuuuuuuuuuu! Grito.
Coloco apenas o roupão sobre o corpo e desço as escadas correndo, procuro a chave da porta, não acho, olho através do vidro —  é o pedreiro.
— GRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR
Era pra ele vir só amanhã.
— Um minuto, senhor, preciso achar a chave! Digo.
Corro escada acima, procuro a bolsa, acho a chave da porta, desço correndo , enfio a chave na fechadura, quando vou abrir:
— Ai meu Deus do céuuuuuuuuuuuuuuuu!
Preciso me vestir.
Subo correndo a escada novamente, estou pingando suor, toda molhada, olho pela janela e digo pro pedreiro:
— Já vai senhor, só um minuto! E ouço ele dizer:
— Essa dona deve ser louca!
Respiro profundamente, tento me acalmar, tiro o roupão e tento vestir a roupa que acabei de tirar.
— Ecaaaaaaaaaaaaaaaaa, essa roupa tá nojenta!
Mas vai assim mesmo, o pedreiro espera.
Desço finalmente a escada, abro a porta e digo:
— Pois não meu senhor, o que aconteceu?
— Nada não dona Vera! Só vim avisar que amanhã não posso vir as 9h, tenho que levar a mulher pra tirar sangue. Só posso chegar as 10h.
Não acredito, não acredito, não acreditoooooooooooooooooooooooo.
— Mas por quê o senhor não disse antes? Pergunto.
— Eu tentei, mas a senhora ficou correndo pra lá e pra cá.
— Está bem, até amanhã então.
— Até amanhã dona Vera, ás 10 horas viu? Não esquece.
— GRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR.
Ele saiu correndo, não sei se voltará.

Vera Vilela

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