Três vezes! Salve ! A esperança.

Até há muito pouco tempo atrás eu estava absolutamente convencida de que Deus era brasileiro. Mesmo levando em consideração aquela piadinha: quando um anjo passou uma descompostura em Deus por criar um pais como o nosso livre de furacões, terremotos, maremotos. E o Senhor com um jeitinho esquisito respondeu: sim, mas em compensação, coloquei brasileiros lá. Não foram raras as vezes que dei baixaria, chamei o time de várzea em campo, rodei a baiana ouvindo essa piada atribuindo-a aos argentinos — no mais do que decantado bairrismo que existe entre nós.

Mas hoje, sinceramente, mudei radicalmente de opinião. Nos livrou das Ritas, das Katrinas, dos Andrews, é verdade, mas, em compensação, caramba! Nos encomendou Dircelinas Severinas, Jefelinas, Malufinas, Jesuinas, Waldomiras, Valérias, até Bispo, agora para arrematar tacou nas nossas fuças Edilsinas. Note-se que eu disse “fuças“, calamidades públicas nas costas, só no litoral americano. No nosso caso é na cara mesmo.

Já fizeram a conta das nossas catástrofes diárias? E agora naquilo de que há de mais sagrado, o nosso símbolo? Numa comparação esdrúxula e triste, a nossa torre? O nosso futebol pentacampeão?

O que mais podemos esperar?

Se em decorrência das CPIs, inclusive, depoentes, participes ou não das falcatruas dos chefes, vão direto para o estrelato peladonas? Alias, não só privilégio das mulheres, o Tarzean (filho de Jane, ops Geane) não foi convidado para o mesmo pódio? Será que vai posar nu ou de cuecas?

O que mais podemos se esperar?

Quando se oferece milhões e milhões com planos de capa de revista para uma secretaria, que simplesmente cumpriu sua obrigação de cidadã? “Antes nua do que corrupta?" Num pais extraordinariamente carente, num desequilíbrio social desrespeitoso, com gente passando fome, sem acesso a escola, enfrentando filas de perder de vista nas portas do INPS, nas macas dos hospitais?

O que mais podemos esperar?

Se até a Policia Federal do Rio de Janeiro, esta privada da condição de exercer seu trabalho, sendo obrigada a habitar (eu disse habitar?) um prédio absurdamente detonado (até rato tem medo de passear por lá) ao ponto de não poderem receber qualquer autoridade em suas dependências, com vasos sanitários quebrados (onde será que eles fazem?) teto desabando, com risco de desabamento? Sem contar, naturalmente, que foram vitimas do alheio. Também, onde guardaram o dinheiro! O dia que “aquilo” que eles denominam de cofre for cofre, eu sou Napoleão Bonaparte, feminino é claro!

O que mais se podemos esperar?

Se camelôs, no frio e na chuva, na rua, na sujeira, sem alternativas de trabalho são escorraçados como criminosos pelos fiscais da Prefeitura, sendo-lhes negado o pão nosso de cada dia? Quando não são achacados por propinas?

O que mais podemos esperar? Uma poesia, talvez? Bem... não resolve, eu sei. Mas ajuda né?

Sempre gosto de amenizar minhas crônicas virulentas, como esta, com uma poesia, uma forma de transitar entre o inferno e o céu! Fiz força nesse sentido, acreditem ! Mas poeta nenhum, por mais que saiba carregar água na peneira (clonando Manuel de Barros) consegue carregar esta enxurrada de catástrofes diarias, neste circulo vicioso e podre da falta de ética, civilidade, decoro. Não consegui encontrar nenhum poema, nem mesmo verso que tivesse essa capacidade. Então, orei:

OH Senhor, ouvi minhas preces! Por favor, esquece essa coisa de brasileiro e manda pra nós uma Ritinha da Silva, um Andreuzinho, até uma Kratina não estava mal... Olha até ficamos agradecidos com uma Tsunami. Pode mandar, é mais fácil de lidar.

Sandra Falcone

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