Japão dos Contrastes

O Japão é o país das imagens contraditórias. Civilização ultra-refinada e rusticismo poético. Já a sua situação geográfica, no Extremo Oriente, sugere impressões de mistério e de lendas. Se, por um lado, abarrota o mundo com os produtos da sua avançadíssima indústria, que produz tudo e em condições especiais de competição, por outro lado desperta a ânsia, que existe em todos nós, de intimidade com um mundo diferente, onde as tradições se perdem na noite dos tempos. De fato, o Japão ocupa um lugar à parte na sensibilidade dos que amam o fabuloso, com sua veia romântica tornou-se a fissura dos ocidentais. É a terra encantada dos guerreiros – que faziam poesia – e dos poetas que descansam a espada e escrevem versos em folhas de lótus. Essa imagem, porém, parece subjetiva em excesso para definir o país. O Japão, muito mais do que uma imagem é um grande paradoxo, com características próprias, que se projeta, sem contornos nítidos, como uma das peculiaridades do mundo.

Além de Tóquio, que é a capital, o Japão possui numerosas grandes cidades. Cada uma delas tem sua atividade específica. Kioto é o repositório dos tesouros artísticos do país: Nagóia, a maior cidade industrial da região central; Osaka, a cidade mais populosa, depois de Tóquio; Nara, um jardim de bosques naturais, e Kobe, o mais importante porto comercial do Extremo Oriente. Uma das características do Japão são suas montanhas. E, entre os numerosos picos, o Monte Fuji, em Honshu, constitui uma paisagem de cartão-postal. Por entre as montanhas, estendem-se os vales inteiramente plantados e pontilhados de lagos azuis, de mística beleza. Os pinheiros encontrados por toda parte, com sua verticalidade, quebram as linhas sinuosas do horizonte japonês.

Com simplicidade e conforto, as casas japonesas são um exemplo de bom gosto. Simplicidade, conforto e pequenos espaços são os componentes tradicionais dos interiores das residências japonesas. Ali, uma parcela das famílias sentam-se em esteiras, para o chá ritualístico. O estilo horizontal-vertical, rigorosamente obedecido há milênios, foi adotado também pela moderna arquitetura japonesa, uma das mais evoluídas do mundo.

Quem chega ao Japão se surpreende em face das diferentes imagens que o país oferece. Ali, o Oriente e Ocidente dão-se as mãos, numa perfeita interpenetração de civilizações. As velhas lanternas de pedra confundem-se com os anúncios luminosos ou back-lights; o repicar dos sinos antigos é abafado pelo apito das modernas fábricas; as flores de cerejeiras, que se assemelham a uma nuvem perfumada, misturam-se com os rolos da fumaça que se desprende dos altos fornos; e a moça, envolta em quimono, que serve chá em xícaras de porcelana transparente, contrasta com a secretária, vestida a ocidental, que introduz dados num computador de bolso. Uma praça repleta de bêbados e moradores de rua, ao centro de Namba, uma espécie de zona franca, onde o cidadão encontra a última novidade em tecnologia digital, que pode ser usada também no Brasil, tanto para áudio como para vídeo. Riqueza e miséria convivem lado a lado. Essas imagens – díspares, como o são de fato – compõem, entretanto, a fisionomia do Japão, o país que mais se transforma no mundo, mas sem perder as peculiaridades de sua civilização, que existe há mais três mil anos.

Rubens Shirassu Jr.

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