Mas afinal, seios?
Ritinha estava precisando de um busto novo. Queria fugir do trivial número 40. Assim, nunca desejou tanto ter aqueles seios fatais, em voga, infinitamente inflados, grandes, dentro do padrão especializado de toda conversação masculina sobre tamanhos, pesos e medidas. Seios, seios, seios, reconhecidos e aclamados, dominando o seu ofício hierárquico, reverentemente clássicos, era o que Ritinha esperava um dia encontrar. E ouvia das amigas: "Ritinha, sem discussão, mas um bom par de seios é uma autoridade feminina, causa repercussão, mexe com a espécie, promove trementos comentários".
Ah! A sua contente imaginação! Ritinha passou a imaginar como seria ótimo se fossem vendidos seios nas lojas, durinhos e práticos de usar, do tipo vai firme, em prol daquele decote convencido, onde o Irã e os Estados Unidos fazem fronteira. Mas tinham que ser seios de boa fachada, satisfeitos e animados, que não fossem brincadeira do pessoal do escritório, com suas comissões de piadinhas arregaladas para curar suas obsessões de cartum. Seios rindo, embora com resquícios de seriedade, bem mais interessantes e com todos os sinais ostensivos de louvor. Seios para esquecer tudo, do céu em chamas, do fim do mundo, das contas do mês. Seios confeccionados adequadamente para vários tipos de mulheres, compreensivelmente postiços, diplomáticos, cheios de esperança.
E Ritinha imaginou também dissidências nesses seios encontrados em lojas. Altamente revolucionários, atraindo matemáticos homens que trouxessem mãos emissárias para os casos de paixão, esplendor ou glória. Mais do que isso, seios para pôr a mão em cima, para cochichar umas palavras o tempo que quiser. Até escurecer, é claro. Seios soltos e leves, dizendo: "mas vem cá..."
Seios prontos, decididos, veementes, que assumem o seu papel de inspiradores do bem. Seios para mulheres esclarecidas, pacientes, tímidas, que rompem o puder e que ainda recebem uma forma definitiva do espírito.
Aliás, seios que, estando em moderadas mulheres, levassem homens a tardes inteiras de espontaneidade, sinceros e bem à toa, sem medos, sem ideologias, apenas sincronizando lábios e bicos para estarem em pleno movimento de excitações e voluptuosidades. Patentes e competentes, seios com recibos de garantia, exatamente reconhecidos e catalogados sob o R de Resistentes. Em consideração às mulheres decididas, seios para o climax das aventuras, certamente inspiradores, maravilhosos e sem temer o olhar de censura dos outros.
Seios, seios, seios, Ritinha pensava em enérgicas prateleiras com seios à vista ou a prazo, no cheque ou no cartão de crédito. Responsáveis, camaradinhas, celebrados, disputados sem suspeita de falsificação. Pois bem, Ritinha fantasiou seios certos da vitória, com alta tecnologia e boa duração, quentes e aplicados em mulheres que não têm nada a esconder. No duro, Ritinha ultrapassou os padrões das coisas normais, criou uma idéia de seios kit, seio franchising, seios vituais. Queria compradores e compradoras em todos os continentes e até em estações espaciais. Unânime, Ritinha queria mesmo instituir uma multinacional de seios enormes e espalhados por todo o mundo. Essa Ritinha...
Cristina Guedes