Fiquei lá embaixo

Ao receber convite para os 25 anos do Ipuarana Club (encontro de ex-colegas de Seminário Franciscano), recusei, alegando haver sido expulso da convivência do grupo, em reunião realizada em Belém do Pará. Acuso, agora, chegada de renovação do convite, assinado pelo Clotário, em termos tão educados que fiquei lá em baixo, de cara no chão. O cara levanta a punição, aplicada pelo capitulo paraense e me reintegra na comunhão dos santos. Deu-me deu bofetada com luva de pelica, como dizia meu pai, pelo que peço desculpas pela brincadeira de haver atribuído caráter universal à excomunhão individual que me foi aplicada, em território tão remoto.

Tudo aconteceu porque relatei episódio da adolescência ocorrido no Seminário quando reclamei, em correspondência, para casa, da qualidade da alimentação que nos era servida. Sabe o leitor como o jovem é faminto. Pois bem. Os padres-professores liam nossas cartas e esta irritou, sobremodo, o padre-reitor. Que me recriminou, com veemência, na sala de aulas. À certa altura, disse: “Talvez não tenha igual em casa!”. Nesses tempos verdes, era atrevido e repliquei no ato: “Não tenho igual porque é melhor”.O velhinho se enfureceu e me expulsou, aos gritos, da sala de aulas: “Comunista! Comunista!”, repliquei, no mesmo tom, com o que parecia supremo insulto: “Tedesco! Tedesco!”.

Quando um século depois comentei, bem humoradamente, tal episódio, queimei-me ante muitos colegas. Passei a ser, a seus olhos, um ingrato que tudo devia aos padres e falava mal de seu rancho, etc e tal. Caí até na besteira de dizer que a historiadora da família, Isabel Lustosa, ganhou reputação nacional, sem ter sido seminarista, bem como o Fred, diretor de revista luso-brasileira de gestão da Fundação Getulio Vargas, sem também haver palmilhado os meus caminhos. Não adiantou. Em reunião do capítulo paraense dos ex-seminaristas de Belém, fui considerado como inimigo. E como não gosto de ir aonde não se agradam de minha presença, cometi a indelicadeza de dizer que não compareceria à festa dos 25 anos do clube dos ex-alunos cearenses (que nada tinham com a sanção a mim aplicada) do Seminário de Ipuarana onde vivi dois anos e meio. Taí o meu pecado.

Lustosa da Costa

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