SOU POETA, SIM
O poeta cuida das palavras, flores de sentimentos, feito cuidadoso florista.
O poeta é um pouco de médico de almas; cuida que o peso da dor seja entendido, pra começar a cura. E a atenção pelo outro seja um cobertor gostoso em noite fria.
O poeta ama, nem sempre é amado.
O poeta sofre o cio das palavras e, febril, em outra dimensão, namora o corpo enfeitado pela alma desejada. Algumas vezes forte, outra suavemente. Às vezes inocente, outras indecentemente.
O poeta não tem pressa, espera, espera o mágico momento de quando os olhares passam a entender que nada há mais para esconder; nem beijos, nem abraços, nem palavras, nem o silêncio...
O poeta é pescador de segredos, dos códigos secretos entre corações amigos. O poeta merece todas as críticas, todas as acusações, mas tem direito à apelação, fazendo jus ao último desejo do condenado.
O poeta ao mesmo tempo em que espera, quer a noite sem demora, quer olhar para fora e descobrir alguém especial que o entendeu por fim.
O poeta é pecador. Sim, pecador.
Sou poeta, sim.
Nilton Bustamante