Orkut
Você conhece o Orkut? É uma nova modalidade de ajuntamento de pessoas na Internet. Só entra quem for convidado por alguém que já faça parte do grupo. Como o tal espaço eletrônico já reúne alguma coisa em torno de 4 milhões de pessoas (boa parte delas brasileiras), não é difícil receber o convite de algum amigo. Se você não foi convidado ainda, me avise por e-mail que eu convido.
As pessoas se agrupam por comunidades. Então, tem a comunidade do “Eu amo Tubaína!”, a comunidade do “É das gordinhas que eles gostam mais”, a comunidade da “Sociedade dos Observadores de Saci” e a comunidade dos “Pezinhos Bonitos”. Isso apenas para citar algumas às quais já sou associado. Por meio delas é possível encontrar novos amigos e reencontrar antigos conhecidos e até parentes desgarrados.
Há comunidades que se formam no embalo da ocasião, como “Eu odeio a Nazaré”, por causa da personagem interpretada pela Renata Sorah na novela das oito. Ou a reunião dos neuróticos de sempre como os grupos de garotos musculosos, neo-nazistas e amantes da violência. Tirando as porcarias (e tem gosto para tudo) pode-se até encontrar antigos colegas de colégio ou vizinhos do bairro onde você morou na infância. De repente acha um grupo de lunáticos parecidos com você (ou com as mesmas doidices) para trocar mensagens e experiências. Eu encontrei, por exemplo, vários fãs do poeta português Eugénio de Andrade. Puxa, foi uma supresa e tanto.
Bom, mas não é de lunáticos ou amigos do bairro que eu quero falar nesta crônica, mas de uma comunidade do Orkut que tem a ver com vocês, queridos CDs. É a “Pérolas da Odontologia” , uma comunidade que reúne quase 5 mil membros, a maioria formada por CDs ou estudantes da área. Pois estão reunidas no fórum de debates do grupo algumas histórias curisosas sobre o relacionamento entre CD e paciente e sobre as gafes dos tempos de faculdade.
O meu lado “anjo malvado” riu de se esbugalhar. No Fórum “Qual foi a pior que você já ouviu ou disse?”, em que são relatadas frases, expressões ou histórias faladas pelos pacientes ou vividas pela gente da área, há citações fantásticas. Pacientes que vão ao CD para “distrair o cisne” (extrair o ciso), que chamam gengiva de “gengiba” ou que pedem auxílio à clínica de "Muco Baxilo Espacial” (Buco Maxilo).
Meu lado “anjo bom” enche o saco e diz que tenho que fazer uma crítica. Na verdade, o conjunto de mensagens revela o quanto ainda precisamos aprender para lidar com o Brasil verdadeiro. Um Brasil com maioria pobre, sem instrução (ou com quase nenhuma) e sem acesso adequado aos serviços de saúde. Gente que não sabe os nomes certos, mas sobrevive apesar disso.
Aí eu fico dividido. E estou enrolando há um tempo para escrever esta crônica por causa disso. Chamo a atenção de vocês para conhecerem as histórias engraçadas ou para verem um retrato da falta de preparo das nossas elites formadas (ou em formação) em Universidades? Porque nós, que chegamos lá, somos uns privilegiados. Será que não deveríamos tratar com mais respeito a pobreza e a falta de instrução? Acho que sim. E aí o “anjo bom” ganha a briga.
Maurício Cintrão
Fonte:http://www.jornaldosite.com.br/arquivo/anteriores/mauricio/indice_mauricio.htm