O Beijo da Jade
Estava com 32 anos, casado há poucos meses, odiando meu trabalho e entediado com a vida pacata. Mas ela, a vida, era boa e eu não queria que mudasse. Certo dia, minha esposa começou a contar o que havia acontecido no dia e eu também narrei o que tinha se passado comigo. Fazíamos isso todos os dias, quando nos reencontrávamos de noite. Minha esposa, ao final da explanação, disse:
— Ah, tenho um recado pra você. — Chegou-se para mim. Beijou a mão e me deu um tapa na cara.
Ela me deu um tapa na cara. Na face esquerda. Meu rosto ardeu e minha cabeça virou para a direita. Olhei para ela. Pronto, ela descobriu tudo. Descobriu que eu... e fofocaram a ela que... e ela viu o ... e escutou a... mas... Eu nunca fiz nada! O que ela descobriu?
— O que foi isso? — Consegui perguntar.
— Este foi o beijo da Jade. — Ela falou.
O Beijo da Jade. Olhei o grandes e angulosos olhos castanhos-esverdeados de minha esposa. Morena, cabelos castanhos-avermelhados ondulados. Bem baixinha, quase nanica, batia no meu peito, e eu com 1.82m. Corpo bem formado e vestindo o uniforme da empresa. Sorria para mim, exultante e divertida.
O Beijo da Jade. Caramba! Descobri o que havia acontecido. Minha mente conectava-se à explicação, que parecia vir de todos os lados, numa velocidade alucinante. Minha esposa era a descendente de uma grande sacerdotisa egípcia que conheceu a maldade na figura de um ser desconhecido. A sacerdotisa aprisionou esse mal com ajuda de seu parceiro e amante. Mas o dois perceberam que o mal poderia fugir e assim inventaram um sistema para sempre vigiá-lo. Decidiram criar as filhas para esperarem encontrar o mal. Se ele não surgisse, que elas criassem as filhas assim para que sempre existam mulheres esperando o mal nascer para começarem a agir. Decidiram por mulheres pois elas criam os filhos e são as únicas a ter certeza se são realmente as genitoras da criança. As espanholas foram as principais divulgadoras desse sistema.
Passaram-se incontáveis gerações e a transmissão da promessa foi sendo esquecida. Apenas uns poucos grupos de mulheres em todo o mundo ainda mantinha a tradição. E nesta geração, todas as jovens que possuíam o poder de transmitir o poder da Jade, o nome da grande sacerdotisa egípcia, ficaram indóceis. Precisavam encontrar alguém escolhido e casar. E no momento certo, aplicar o Beijo da Jade.
O Beijo concederia ao escolhido o direito de lutar ao lado da descendente da sacerdotisa contra o mal. E se minha mulher havia cumprido a tradição, é porque o grande mal está voltado. Precisávamos nos preparar para ele. Fixei os olhos na minha esposa. Ela continuava sorrindo.
— Como é? O Beijo da Jade? – Eu, atônito.
— É, o beijo da Jade. – Falou, tranqüila, minha esposa.
Ela não podia estar tranqüila assim. A não ser que fosse parte do treinamento, ter tanta certeza e ser tão decidida. Ela estava calma e sorrindo.
— O Beijo da Jade? – Já conseguia aceitar a situação. Apenas não podia ainda conceber o tamanho do projeto de transmissão da tradição para chegar até mim. Ainda estava paralisado com isso.
— É, menino doido, o beijo da Jade. – Olhei para minha esposa, que acabara de falar rapidamente. – Liguei para a Jane, mãe da Jade, e ela botou a menina ao telefone. Ela mandou um beijo para você.
Dei-me conta novamente da realidade. Mas essa era a realidade verdadeira. Minha priminha, filha da Jane, tinha mania de beijar a mão ao mandar um beijo para outra pessoa. Ao arremessar o beijo, ela dizia “plaft”, como se fosse um tapa chegando ao rosto. Minha esposa, simples e sacanamente, deu-me o tapa mandado pela menina. Divertiu-se comigo.
E eu quase tive um colapso ao receber o Beijo da Jade.
Giovani Iemini