MINHA PRIMEIRA FESTA VIRTUAL DE ANIVERSÁRIO
Pode ser muito bonito aniversariar dia 1º de janeiro, mas é o tipo do dia ingrato, porque praticamente o mundo todo está cansado da virada do ano, das festas e dos fogos (não os de artifício, mas os das bebidas), e, no dia seguinte, curte aquela ressaca ou mesmo aquele cansaço de uma noite em claro ou na farra. Para dificultar, no Dia da Confraternização Universal não tem um restaurante aberto para confraternizarmos com ninguém. Se resolvemos dar um almoço ajantarado – bem ajantarado mesmo para dar tempo das visitas se refazerem um pouco –, acaba sendo complicado para quem recepciona (porque trabalha na preparação de algum prato mais sofisticado desde a véspera, quando todos estão se divertindo) e para o convidado, que vem com cara de “estou vindo por você, mas só mesmo muita amizade porque o sacrifício é grande, não estou me agüentando em pé”...
Por tudo isso, esse ano eu disse que não queria ter festa. No entanto, acabei tendo uma festança ininterrupta de praticamente uma semana. A Solange Firmino teve a idéia e organizou tudo. Resultado: passei a comemorar desde o dia 28 até o dia 2 meu aniversário no orkut. Sinceramente? Nunca pensei que fosse tão emocionante. E divertido.
Emocionante sim, porque, se fica difícil para as pessoas do próprio Riol ocomover-se até Maricá, que fará gente de outros Estados: Minas, Bahia, Paraíba, São Paulo, Pernambuco, Pará, Santa Catarina, Rio das Ostras, Paraná... Quase impossível (até passagem no fim do ano não se acha fácil). Agora imagine além de amigos de todos esses lugares contar também com a presença do pessoal que está residindo fora do Brasil: Alemanha, Estados Unidos, Portugal... Pois todos vieram. Não só vieram, como trouxeram seus poetas favoritos, sua mensagem, seu carinho, sua palavra amiga, comemorando comigo e dando-me o presente de suas presenças. Uma emoção incalculável.
Divertida porque teve de tudo: bolo virtual, champanhe, brinde, animais, violão, cantigas, banho de piscina a fantasia, e até passistas de escola de samba, trazidos pela Jaqueline Saraiva, chamando todo mundo para o samba de pé, rasgado, brasileiríssimo.
Foi um aniversário inesquecível. Mas que tolice acabo de escrever: se é inesquecível, não foi, continua sendo, continua velando e desvelando-se, doando-se interminável. Agora entendo na prática a teoria de Walter Benjamin, quando ele fala, em O Narrador, sobre a necessidade de nos apossarmos da reminiscência como experiência coletiva a ser partilhada. O que tive e tenho não se esgota no passado, é algo de que posso sempre lançar mão, nos momentos em que precisar da força extra de um aconselhamento ou de um sorriso. Esse aniversário será sempre meu presente, assim como é meu passado, construído tijolo a tijolo, bloco a bloco, amigo a amigo.
Fiquei com vontade de outros. Tanto que planejo fazer mais aniversários por ano, ops!, fazer mais comemorações festivas, para celebrar não propriamente datas específicas – convenções abstratas –, mas para retribuir o afago personalizado de cada convidado com o meu abraço, que mesmo sendo virtual, existe. É concreto. É real. E pode ser sentido mesmo a quilômetros, ou a gigabytes de distância.
Leila Míccolis