A PÁ, A FOICE E A ENXADA

De repente, percebo a existência de objetos a minha frente. Não que sejam estranhos, mas de onde surgiram? São três: a pá, a foice e a enxada. Materializados... Vivos... Surgindo na retina dos meus olhos, como seres extraterrestres...

Sinto algo revirar meu estômago. A náusea reluta em me deixar.

E os três objetos à minha frente... Parados e concretos, dizem alguma coisa. Parecem vivos... Chamam-me insistentes e arrogantes.

Olhando em volta, reparo que o lugar também é diferente. Nunca havia estado antes aqui... Uma imensidão de terra vermelha envolve, até onde meus olhos alcançam. Um horizonte avermelhado faz composição com um céu crepuscular. O brilho do metal dos instrumentos e ímpar.

Continuo a observá-los. Sei que jamais verei tal cenário até morrer. Fotografo e guardo no arquivo da memória todas imagens possíveis. E são tantas...

Tento me mover e nada. Meus pés estão fincados no solo como raízes pré-históricas. Meu corpo está enrijecido, feito rocha. Apenas meus olhos e pensamentos conseguem movimento.

O que estou fazendo neste lugar? E estes três objetos, por que olham para mim? Não entendo o incomodo que me causam a pá, a foice e a enxada... Poderia estar apenas olhando através de uma janela toda essa paisagem. Mas não. Faço parte integrante dela.

Eu sou a pá, a foice e a enxada. Assim como a terra vermelha e o crepúsculo. Sou o trabalho duro dos personagens de nossa história. Represento o suor de cada um na construção desse país.

Sou esperança. Sou futuro e passado.

Ligia Tomarchio

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