Luzes

Ontem, após várias décadas, tomei coragem e passei pela rua onde vivi parte de minha adolescência. Comecei a ter dificuldade para lidar com essa respectiva rua ao entrar em minha fase madura. O mesmo não ocorreu com o vilarejo, no qual também vivi a adolescência. O último não me evoca tristezas.

Andando, olhava as casas. Muitas permanecem com as mesmas características. Sequer com alteração na pintura. Olho para cada janela dos que um dia ali habitaram e que hoje já não estão mais entre nós...

Sinto como se uma imensidão de luzes piscasse para mim, chegando a me ofuscar. Lágrimas começam a cair incessantemente, e eu digo que são as luzes das janelas que me fazem lacrimejar. Minha irmã responde: "Mas que luzes, se estamos em pleno dia e as janelas têm apenas a luz do sol?"

São as luzes daqueles que partiram, que estão do outro lado da margem; foram presenças tão vibrantes que, ao olhar cada pedaço que habitaram, sinto-os com toda sua energia, como se cada um me acenasse... Uma imensidão de mãos que dizem adeus... Eu também aceno!

Creio que a despedida, da qual fugi tantos anos, foi realizada.

Adeus, pedaço de minha vida, seres inesquecíveis. Não consigo rememorá-los onde vivemos dias risonhos e, hoje, apenas o vazio, o silêncio e a saudade que dilacera.

Deixe-me acalentar essas lembranças apenas em meu coração. Dói menos.

Belvedere

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