PAÍS HIGH TECH

(Crônica de Stanislaw Ponte-Preta psicografada pelo médico Carlos Alberto Pessoa Rosa)

Ô do Blocos, não desanime com a província. Nosso quintal tem mais leis que posta no Tietê — Atenção redação!!! Entenda o espírito da troca da consoante, é para evitar que as peatas de plantão reclamem. Dotô, isto tudo está uma festa de mexerica, um zabumba — Osvaldo corrija se o fruto for com ch e aproveita para ver se é um ou uma zabumba . E os gringos admiram as regras que norteiam o direito de consumidor montado nas terras do PT e do PSDB! Sendo bom pra eles, ruim pra nós. Aumentam os que recolhem a chepa para fazer um caldo. É o mundo dando uma de Sued: sorry periferia. Pra mim, dotô — como diria tia Zulmira em sua caduquice saudável, hoje chamada de Alzheimer — , é o fim do caminho. Exigir que fosse cumprido o que está escrito é pior que dançar o samba do crioulo doido. Um susto só. Muita lingüiça no papel.

Dotô, pode dizer para a Leila, do www.blocosonline.com.br , que o pão ao lado dela não é de açúcar e ninguém reclama. Nem o Sued teve a idéia de discutir assunto de tal importância em sua coluna — Osvaldo! Com esse negócio de acordo luso-brasileiro, veja se o acento não caiu! Sem rir que o posto não é piada de Português. Voltando às vacas velhas, que as novas estão com febre aftosa, direito de consumidor é coisa dos mesmos que inventam o dia disso e daquilo. Tá na hora de inventarem um em homenagem própria. Pode escolher dotô: dia do ladrão ou do estelionatário. Que tal 30 de fevereiro? Já aproveitam e inventam um novo dia. A verdade nua é que quando pensam na gente é para enfiar cacete goela abaixo.

Dotô, um conselho do além, esse negócio de escrever uma crônica sobre direito de consumidor é barco furado. Pode abaixar santo, usar sal grosso, rezar diante do Cristo Redentor, que nada muda na província. Se o papel higiênico lixou o traseiro, a Star One caiu — permaneceu uns dias no mundo das estrelas —, a Livraria Cultura cobrou dois anos depois da compra e não comunicou, não tem a quem reclamar. Os da cerveja não estão nem aí, desde que tenham o buraco do bolso forrado. São questões do sistema, das intempéries do tempo. Verdade! Tudo que rebuceteia de ruim atinge o povão. Esse negócio de transformar ferrugem em ouro é o tipo da alquimia que a tia Zulmira conheceu bem nos seus momentos de insânia. Só podiam frutificar os banqueiros, os sujeitos passam o chá da tarde disputando quem consegue o maior lucro e a maior fila de aposentado.

Dotô, assim você morre cedo! A moça que lê a revista Contigo, assiste ao Pânico na TV, e sem selinho, freqüentadora dos motéis da moda, só executa seu papel, não passa de uma bangalafumenga, mosca de padaria. Quem nasceu em um quintal onde inventaram o genérico, o similar e o original, não pode ficar nervoso com uma faltinha de luz. Como já disse antes em alguma crônica: acabaram com o caju e plantaram xana — Da redação! Pode corrigir se for com ch. Competência é isso aí. Brasil pós-moderno, por um caixa-dois vale tudo. Dotô, larga esse telefone, vai arrumar encrenca por um black out ?! “Boa noite, estou sem luz.”, é o dotô reclamando. “Os vizinhos estão com o mesmo problema?”, pergunta a voz de mulher do outro lado. “Moça, se sair daqui sem luz corro o risco de fraturar o fêmur.” “Qual o número de seu contrato?”, continua a moça, desafiando a paciência do usurário da Elektro. “Onde vejo isso?”, pergunta o dotô já irritado com tanta inquirição. “Na conta...” “Jovem, acabei de dizer que estou no escuro...”, diz o dotô interrompendo a funcionária. “Então o endereço.” “Rua Lucas de Siqueira Franco, 196.” “Não consta.”, ela responde automaticamente. “Como se é o endereço para onde vocês enviam a conta?” “CPF?” “Essa é fácil: 444444444.” “Agora encontrei, anote o número do processo, 03658458430403.”, finalizou a moça e desligou. Calma, dotô! Ela só faz cumprir o direito do consumidor.

Dotô! Speak seriously , o problema é que na hora da verdade o prometido vira fumaça; potocas. No desespero vale qualquer coisa, agarra-se no abismo. Estivesse entre os mortais, o Ibrahim Sued sofreria demais, mas ele está no inferno, tenta convencer os do fogo da importância da etiqueta. Dotô, acabe com isso, fale para a Leila que é fácil, tem o PROCON, o IDEC... Sem desânimo, dotô! Não podemos dizer à moça que curte as letras para metaforizar a raiva, você sabe que ela não tem nada a ver com as donzelas da sociedade carioca que, enquanto o satélite vive um momento de estrela, aproveitam para fazer as unhas do pé. Quanto ao dotô, a questão da Livraria Cultura complicou, você já gastou muito mais que a dívida para ver seu direito respeitado, e agora é o Dinners quem não lhe envia as faturas da época, pior, enviou de um outro cliente... Consumidor, dotô, é tudo cego, igual aos gregos que caíram no canto — Osvaldo, pode deixar que é canto mesmo, não vai aí me corrigir e colocar conto — das Sereias, que na terrinha o canto virou conto, mas não narrativa, mas conto — Da redação, aqui é conto e não canto — do vigário — Você está certo Osvaldo, aqui tanto faz se é canto ou conto.

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Dicionário auxiliar: Forrar o buraco do pano: botar dinheiro no bolso; High tech : moderno; Hilário de gouveia: bobo; Jogar um creme: melhorar a aparência; Mosca de padaria: pessoa sem expressão; Rebuceteio: confusão; Sorry periferia: desculpe; Speak seriously:  fale francamente. Bangalafumenga: pessoa sem expressão; Chepa: resto de feira; Festa da mexerica: bagunça; Potocas: mentiras; Selinho: virgindade; Zabumba: bagunça. Dicionário de Gíria, Serra e Gurgel, J.B., SQS, 302 Bloco B – Ap. 403 – 70330-038 – Brasília – DF.

Carlos Alberto Pessoa Rosa

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