UMA CHUVA PODE SER LIDA... UMA CHUVA PODE SER TOMADA...
Alguns podem tomar isto como uma chuva de verão passageira. Para outros, uma tempestade que pode bater de frente; ou talvez uma garoa ou um chuvisco que só faz algumas cócegas a peles ditas impermeáveis…
Mas aqui dentro dessa caixa- livro pândora-todas as emoções estão envoltas num resultado final que é líquido.
“Uma chuva pode ser lida…”
São anos de acúmulo pluviométrico, de tantos escritos que vão se juntando, carregando o meu céu e formando nuvens pesadas e o ar vai ficando denso e rarefeito, provocando uma neblina. De repente, acontece um trovão, a energia vai aumentando e descem raios e relâmpagos e assim surge o rasgo da água.
Todos os pingos nascem em forma de letras, que vão tomando o jeito correto e desembocam nessa torrente, nessa catarata oceânica de emoções, de frases atordoadas feito pororocas, que ligadas de alguma forma saem deste tubo de ensaio literário. Enfim, “os líquidos tomam sempre a forma do recipiente que os contém e sempre encontram seu caminho…”
Neste caminho…
Existem pessoas que são mais visuais, outras mais auditivas e através do sentido mais apurado é que elas guardam em sua memória as fisionomias e as coisas que lhes são preciosas.
Perdoem-me os literatos que sempre gostam de nomear(classificar) a forma com que as palavras são escritas, pois os textos que aqui seguem são disformes, eles são livres.
Pretendo fisgar o leitor pelo lado sinestésico, sem falsas modéstias, e por todos os ângulos possíveis. Aliás, eu abro o compasso, o esquadro, porque aqui não existem mais perímetros; é tudo junto, escancarado, um bloco de concreto que faço despencar sobre as cabeças…e neste rombo, nesta cicatriz é que vivo, ou melhor, viver só vale se a gente sentir muito e sem medo. O resto é o massacre diário do cotidiano, que este sim é cheio de formas e conveniências a serem seguidas.
Então que se rasgue a água! Que se movam as hidrelétricas.
Quem foi que te disse que eu quero economizar energia? Eu tenho uma radiação dentro de mim inesgotável, e que em determinadas pessoas dá curto circuito.
Muita gente se assusta com esse pique, essa disposição. E sempre perguntam-me qual é minha fórmula pessoal, mas isso não funciona como eu dar receita de bolo, mas possui uma forte tendência em ser o bolo da festa, que enraiza essa alegria indecifrável em mim.
Sei que às vezes desperdiço energia com pessoas e coisas que não valem a pena, mas ainda assim não quero começar a usar lâmpadas fosforecentes para poupar o dispêndio, prefiro dar luz a ser estéril.
Sinto que provoquei uma enchente.
DICAS PARA TOMAR O BANHO DE CHUVA PROPOSTO ACIMA:
1- Tudo oscila entre o sagrado e o profano (matematicamente um esta contido no outro).
2- Você pode dar a volta ao mundo sem sair do lugar (cérebro é um trem de viagem natural para quem tem os trilhos limpos) e só é transitório aquilo que não passa. O que passou está morto, não se move mais.
3- Alguém que vive fora de seu país a muito tempo pode ainda pensar e sentir em português, sem que isso deixe um conjunto vazio.
4- Todas as cidades do mundo são desertas, a garrafa que pode matar esta sede humana é um SOS berrando dentro de nós.
5- Tudo que se rompe ou se racha, ABRE, e o que está aberto sempre de alguma forma sente mais.
6- Se o corpo de cada ser é gráfico tente achar o mapa da mina.
7- Quem muito escreve tem muito ardor na ponta dos dedos e de alguma forma vivifica isso em palavras por extenso.
8- Despertador é só pra quem precisa acordar, não pra quem vive em estado de alerta. Todas as pessoas deveriam aprender usar seu biorritmo como relógio.
9- Mergulhar fundo pode ter o risco de não ter volta e você pode se afogar se não possuir uma âncora interna.
10- Com luvas a gente disfarça as impressões digitais das cicatrizes deixadas nos outros.
11- Uma mordida deve sempre que possível ser abrangente; principalmente se você gostar de comer…
Então compre sua passagem, incline o mundo e caminhe para o total de um modo suspenso, em que você possa visualizar abaixo e acima do seu campo visual. Tenha em foco todos os movimentos ligados a vida e de preferência como referência dê um jeito de registrá-los, pois tudo pode ser fotográfico, enquanto a sua permanência no mundo.
Helena Istiraneopulos