“ESTRELAS BRASILEIRAS...”.
Eu cresci ouvindo esse jingle, que é conhecido dos brasileiros desde outros natais. Também ri com a piada do anúncio das linhas aéreas lusitanas: “Nosso guichê fica ali, no Aeroporto de Congonhas, ao lado do da VARIG! VARIG! VARIG!”. Mas foi no início dos anos de 1970 que eu me rendi incondicionalmente aos encantos daquela estrela solitária, que somada as cinco da Cruzeiro do Sul, tornava-se uma das melhores empresas de aviação comercial de então, reconhecida internacionalmente pela qualidade do serviço de bordo, regularidade de horários e uma estrutura de manutenção de aeronaves que era referência mundial. Tínhamos orgulho da VARIG!
Eu me rendi porque comecei a voar? Não! Foi porque estreou o “VARIG é dona da noite”, na TV RECORD dos, ainda, bons tempos: um programa que começava por volta da meia-noite dos sábados e ia até as primeiras horas da manhã de domingo. Nele desfilavam filmes clássicos e novos, séries e desenhos animados. Cinéfilo precoce, eu lutava contra o sono para assistir todos! Mas ninguém é de ferro e às vezes eu dormia com a televisão ligada, para ser acordado pelas broncas de meu pai: “Pensas que eu sou sócio da Light?”, ele sempre repetia.
Mas não era só eu que cochilava: Certa vez o operador da RECORD trocou a ordem dos rolos do filme “A Raposa do Mar” (The Enemy Bellow , 1957), um clássico sobre a II Guerra Mundial que, embora adolescente, eu já havia visto “n” vezes. A projeção virou uma bagunça que deve ter deixado alguns insones sem entender “lhufas”, e outros, puristas, indignados. Foi no “VARIG é dona da noite”, no entanto, que eu vi meus primeiros filmes italianos e franceses. Lembro até hoje de “O Sétimo Jurado” (Le Septième Juré , 1961), um filme sobre tribunais extremamente perturbador.
Os intervalos, obviamente, eram recheados de propagandas sobre os destinos nacionais da empresa, todos com jingles próprios: Ceará (“... toma um caju geladinho, nas praias do Ceará.”), Santa Catarina (“Santa Catarrina é um amorr!”), Rio Grande do Sul (“Porto Alegre, cidade moderna, bonita demais!”), etc, sempre finalizadas com: “Conheça o Brasil pela VARIG!”.
Os destinos internacionais também eram destacados: Portugal (“Volto já pra Portugal! Quero ir pela VARIG!”), ou, em minha opinião, o mais belo de todos os jingles: o do Japão, que na voz maravilhosa e afinadíssima de Rosa Miyake descrevia a saga do pescador japonês que salvou uma tartaruga que, como agradecimento, o levou para o Brasil. Quando, depois de muitos anos, bateu a saudade de sua terra natal, ele pegou “uma passagem da VARIG, e voou, feliz, para o Japão.”.
A história dessa empresa, que teve início na primeira metade do século XX, pelas mãos pioneiras de Ruben Berta, se confunde com a de muitos brasileiros; como as “asas da PANAIR”, no apogeu de seu tempo. Já adulto, um enorme DC-10 da VARIG foi o palco inesquecível de minha primeira e longa viagem aérea.
É uma pena que anos de má gestão tenham deixado essa estrela na condição de cadente, hoje mais para o solo que para o céu. E, assim, o céu não é mais o mesmo!
Caso seja for possível recuperá-la de forma racional, que assim seja! Mas que qualquer apoio não seja, em absoluto, um prêmio à incompetência administrativa e à incontinência financeira; e nem onere os cofres públicos. E que qualquer acordo busque a preservação do quadro funcional: os que de fato foram responsáveis pelo padrão de qualidade com que a VARIG brindou seus usuários por tantos anos.
Se eu puder ver esta estrela novamente no firmamento, eu até faria um pedido: Que a VARIG continue presente nos ares do mundo! Isso seria um GOL de placa, e TAM bém seria muito bom para o BRA sil E já que lembramos das outras: Que todas sejam, sempre, estrelas brasileiras no céu azul!
Adilson Luiz Gonçalves