O brilho das coisas
(Um causo bem mineiro)
José Martins, vulgo Zé tatu, trabalhava na fazenda olhos d'água, Distrito de Esmeralda do município de Santana dos Ferros em Minas Gerais. Capinava distraído quando a enxada bateu em uma pedra verde e brilhante. Era tão bela que despertou sua curiosidade. São coisas do destino: casualmente ele acabava de descobrir uma das maiores esmeraldas do mundo.
Seu Jojô era homem culto integro, de peso, meu avô teve a ventura de gozar de sua amizade. Para se aquilatar sua postura moral, vem-me à lembrança um fato a que assistia, quando, em uma reunião, em sua fazenda, festejávamos seu aniversário.
Descontraidamente, ao pé da escada, aproximou-se Zé tatu, conduzindo uma vasilha com azeite de mamona e minhocas, ungüento para curar boi. Uma das filhas de seu Jojô, brincando cortejou o empregado.
“Caso contigo se tomar esse ungüento”
Ao que Zé tatu retrucou.
“Você sustenta deveras?”
Ela concordou.
E, para espanto das pessoas presentes, tomou grande parte do remédio. A moça desapontada e surpreendida alegou que era brincadeira e não casaria com ele.
Seu Jojô, assistindo à cena, com toda seriedade disse a Zé tatu:
“A moça é sua”.
Quanto a esmeralda, Zé tatu não deu muita importância. Após o casamento com a filha do fazendeiro, mudou-se para arredores da fazenda. Hoje, a esmeralda fica escorando a porta da sala.
Francisco Malta