NOMES E SOBRENOMES
Um dia desses eu tentava passar um fax para um dos nossos jornais da área da Nova Inglaterra (USA) e não estava tendo sucesso, resolvi telefonar para a redação do jornal e perguntar se havia algum problema com a linha do fax. Quem me atendeu tinha uma voz jovem e muito cortês e, no meio da conversa, pediu para eu me identificar. De pronto, disse o meu nome. Senti uma coisa no ar. Meu interlocutor ficou atônito e me disse que era impossível eu ter um nome desse e foi logo perguntando se eu era japonês. Eu lhe afirmei que não. Disse-lhe, orgulhosamente, que eu era brasileiro da melhor estirpe, bem misturado como manda a receita da terrinha: português com negro com espanhol e com índio. Expliquei-lhe que o meu sobrenome materno era de origem indígena, muito comum pros lados de lá da Bahia. Ele ficou mudo do outro lado, escutando tudo e enquanto isso o meu fax foi transmitido. Nos despedimos gentilmente.
Não tive tempo de explicar para o meu interlocutor que o nome que ele pensava que era japonês, como define o velho Aurélio, vem do tupi "tanayu'ra", designação comum às fêmeas ou rainha dos insetos himenópteros, da família dos formicídeos, que perdem as asas após o vôo nupcial, indo formar novos formigueiros. Elas levam consigo pequenas parcelas de cogumelos a fim de darem início à nova cultura. É também conhecida como içá, a formiga mestra. Não sei se ele conhecia esta acepção da palavra ou simplesmente só conhecia o significado popular que também o Aurélio define como "pessoa de nádegas bem desenvolvidas", que particularmente não é o meu caso.
Isto me botou pra pensar nos Bezerra, Barata, Cavalo, Pinto, Camarão, Formiga e Carneiro; nos Pinheiro, Laranjeira, Carvalho, Parreira, Oliveira e Mangabeira; nos Machado, Monte, Cruz, Bandeira, Varanda ou Varandas, Matos, Oceano, Pimenta, Lima, Chaves, Reis, Costa, Nobre e Santos; nos Lisboa, Bahia, Brasil, França, Holanda e outros tantos sobrenomes que são passados de pais para filhos, de avós para netos e bisnetos, características e identidade de uma família que é a sua marca registrada e que, felizmente, por lei não se pode mudar.
Em qualquer lugar do mundo, o sobrenome, os pais, o sexo, o país onde se nasce e os padrinhos de batismo não são escolha do indivíduo e, por lei, não se pode mudar, exceto, no caso de sobrenome, para a mulher por ocasião do casamento ou divórcio, e, em raríssimas excessões, no caso de mudança de sexo. Já o nome, prenome ou antenome, se ele for exótico ou ridículo, se causar constrangimento ou for causa de problemas por homonímia, as leis são mais flexíveis.
O anedotário está cheio de nomes exóticos por loucura e ignorância dos pais ou, simplesmente, pela combinação dos nomes dos genitores. Para citar alguns casos, temos os clássicos Um Dois Três de Oliveira Quatro; Jesus Cai da Cruz; quatro irmãos chamados Prólogo, Abertura, Epílogo e Errata; duas irmãs chamadas Vicentina e Vilatrina. Temos nomes como Hiena, Analise (de análise), London, Leide Laura (de Lady Laura, conhecida canção de Roberto Carlos), Merijane (de Mary Jane), Novalgina, Coramina, Cherlock, Dinálio (filho de Dina e Virgílio), os irmãos Helenocrates e Socrelena (filhos de Sócrates com Helena), Prodamor Conjugal de Marimel (produto do amor do casamento de Mário e Amélia), Alcione (filha de Alcides com Ivone), Catacisco e Ciscorina (filhos de Catarina com Francisco), Ordep (Pedro ao contrário) e outros tantos nomes esdrúxulos.
Para terminar, conto uma história dos idos 50 de um homem chamado Getúlio Diarréia. Conta-se que o cidadão era alvo de troças constantes e resolveu apelar para o Presidente da República a fim de poder mudar de nome.
O então presidente Getúlio Vargas, assim que ouviu o seu nome completo concordou plenamente com o apelo e prometeu abrir uma excessão, permitindo ao indivíduo que ele trocasse de nome. Em seguida lhe perguntou como gostaria de se chamar.
— Qualquer outro nome, senhor presidente. Podem me chamar de Pedro, José, ou Manoel Diarréia, o que eu não suporto mais é esse nome Getúlio.
Fernando Tanajura Menezes