PÉ QUEBRADO

Foi em fevereiro de 2006, véspera de carnaval. Acho que nunca vou esquecer do dia em que quebrei o pé (Direito!). Foi à primeira vez que quebrei uma parte do meu corpo e torço para que tenha sido a última.

Costumava achar bonito alguém andar com alguma parte do corpo engessada. Aquela coisa dos amigos escreverem seus nomes no gesso, coraçõeszinhos... Bobagens de adolescentes que depois dos 40, não tem mais a menor graça! Com perdão do termo, quebrar o pé dói pra cacete ! Demora um tempão pra sarar e é horrível não poder andar com as próprias pernas. Pular com o pé esquerdo então! É quase uma tragédia!

Mas deixando o lado dramático da coisa (minha família diz que tenho mania de fazer drama com tudo) resolvi tentar ser mais otimista daqui pra frente.

Assim é que lutei nesses dias de pé quebrado (o direito!) para lembrar do famoso jogo do contente . Dizia pra mim mesma: ora Mary o que tem demais quebrar o pé (direito) na tua primeira semana de férias, vésperas de carnaval, quando você estava cheia de planos? Bobagem menina! Você não é azarada não... Tem gente que quebra a perna inteira, que precisa usar parafuso, fica paralítica, amputa...

Lembrei de tanta coisa terrível, que quase acabei literalmente de joelhos, agradecendo a Deus por ter quebrado SÓ o pé (direito! Na primeira semana de férias, vésperas de carnaval...).

Infelizmente nessa minha tentativa de ser mais otimista, não consegui deixar de lembrar que na ocasião, não consegui arranjar muletas e que por causa disso, quase quebrei (também!) a perna esquerda de tanto pular em locomoções extremamente necessárias, como ir ao banheiro.

Foi também difícil esquecer o sumiço de alguns amigos... Não apareceu ninguém para escrever o nome no gesso... (é nisso que dá quebrar o pé quando não se é mais adolescente...).

Voltando a falar em otimismo, tive o maior apoio da família nesses duros momentos! Teve até gente pra me carregar no colo e me ajudar a enfrentar (com coragem) o mal-afamado atendimento de emergência  do INSS... Atendimento, aliás, que não foi tão ruim, com exceção de uma enfermeira, que com seus instintos assassinos, quase me aniquila com uma simples injeção...

Como no jogo do contente , teve um lado bom nessa história de quebradura de pé (direito! Na primeira semana de férias, vésperas de carnaval): a partir de agora tenho uma admiração quase sagrada por aqueles que não podem se locomover por algum motivo.

Na minha imobilidade (e inutilidade, porque me senti inútil também) pude perceber que apesar de demorar passar esses momentos de infortúnio, eles PASSAM! Também aprendi a valorizar mais os meus pés. E é por isso que fiz um juramento: NUNCA mais me atreverei a reclamar da feiúra de seus dedos enormes, tortos, finos e separados (Graças a Deus sem chulé porque seria imperdoável...).

De agora em diante, vez por outra, é capaz de alguém me surpreender beijando meus pezinhos, chamá-los de lindos, de meus amores e concluir que sou mesmo muito esquisita...

Entretanto mesmo tentando desesperadamente não ser dramática ou pessimista, digo que esquisito para mim é conseguir achar natural quebrar o pé (direito! Na primeira semana de férias, vésperas de carnaval, quase botar os bofes pra fora de tanto pular com o pé esquerdo, e ainda conseguir convencer alguém que estou ficando mais otimista...                                       

Mariana Araújo

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