LUTO VERDE
(Quando a a ilha de Paquetá no Rio de Janeiro foi atingida por ventos de mais de 150 km por hora, em 18 de março de 2006)

Paquetá está de luto.
Nem mesmo a mística das mortes em série, tão conhecida na ilha, seria capaz de prever tal desastre.
Não presenciei a catástrofe, mas pude vê-la através de fotos.
Foi como ver e identificar corpos depois de um acidente.
Cada um daqueles membros mutilados, daqueles seres tombados, de suas entranhas expostas...
Uma dor profunda, afinal, são todos meus conhecidos.
Fraternos amigos de anos, décadas.
Companheiros que nos acompanham a gerações.
Que nos alimentam, sombreiam, abrigam nossos passarinhos, enchem nossas vidas de sonhos.
Mortos para sempre. Para nunca mais.
Como caminhar & cantar pelas ruas de Paquetá sem a presença deles?
Como ter em festa o coração diante de tantas ausências?
Nosso chão cobre-se com o sangue de suas seivas.
O mar se recolhe respeitoso.
A lua pranteia oculta sua dor.
E nós?
É hora de enterrar nossos mortos.
Chorar por eles e lamentar.
Mas nunca, jamais, marcar com um lugar vazio a ausência deles.
Que no momento seguinte, renovemos a vida!
Assim, Paquetaenses, vamos repôr no lugar os exemplares que neste dia, a natureza em fúria tirou de nós.
Replantemos nossa ilha, não só por ser algo ecologicamente correto, mas sim, e principalmente, por respeito às nossas árvores, que hoje, em cortejo, temos que sepultar.

Maria Luiza Falcão

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