As Moças do Tempo
As Moças do Tempo, nos telejornais, sempre foram figuração. O tempo, não o tempo metafísico dos filósofos, mas o tempo meteorológico, o clima, feito de sol, chuva, nuvens ao cair da tarde e outros elementos naturais, que, deslocados de contexto, até ficariam bem em arranjos poéticos, este tempo é conversa pra boi dormir. Ou não.De repente as Moças do Tempo dos telejornais começaram a fazer sucesso. Sandra Annemberg passou de figurante para o estrelato. Marian Godoy, Fabiana Scaranzzi e Patrícia Poeta inspiraram mais de um cronista a escrever sobre suas belas figuras. Para agradar gregos e troianos, a TV já testou até um Moço do Tempo, em 1996. Os que moramos na cidade só queremos saber se amanhã fará sol ou fará chuva, pois isto pode estragar os nossos planos de ir à praia ou fazer um piquenique no parque. Isto eu digo nós os convencionais, porque aos radicais tanto faz sol ou chuva, irão aos trails enlamear as botas com igual ânimo, pularão sem pára-quedas ou casarão no fundo do mar indiferentes aos sorrisos previsíveis da Moça do Tempo.
Lembro que o papel da Moça do Tempo não é assim tão acessório. Quem mora no campo está sempre disposto a escutar a previsão do tempo, mesmo sabendo que a súbita câimbra na perna direita é um sinal mais eficiente de chuva e trovoada do que as imagens de satélites meteorológicos. Ainda assim o Homem do Campo ouve apaixonado a Moça do Tempo explicar, como o geógrafo do Inpe, que uma massa de ar frio vinda da Argentina se desloca sobre a região Sul prometendo baixar a temperatura nas próximas horas.
O tempo meteorológico é um assunto tão importante que tem até um canal na TV a cabo, o Weather Channel. O Homem do Campo americano deve se deliciar por ter um canal dedicado exclusivamente a um tema fundamental para o seu trabalho. Em inglês ninguém confunde weather (clima) e time (época, era, período). Deve ser por isto que os ingleses adoram passar um monte de tempo falando sobre o clima. E os poetas passam o tempo a falar de todo o tipo de coisa sem importância como se tudo na vida fosse importante. Platão estava certo ao banir os poetas da República. Enquanto os filósofos divagam sobre a existência, sua duração e sentido, os poetas cantam o sol, a chuva, as nuvens ao cair da tarde e as moças do tempo. Tudo com espírito leviano, como se a vida fosse feita apenas de dias de sol, dias de chuva, ou tempo instável ao cair da tarde.
Marília Kubota