COMBATE
A Razão e a Emoção iniciaram nova luta.
A Emoção, confiante no ímpeto de seus punhos, desencadeou terríveis golpes, alardes que em qualquer outra adversária significariam aniquilamento completo ou, ao menos, primazia à espancadora.
Porém a Razão, de corpo esquivo e ângulos fulneráveis escudados, aguardou o instante mais oportuno para a ofensiva.
Sua resistência aso avanços, a presteza dos aparos, a calma e a segurança ante o furioso e cego ataque da rival, fizeram com que esta começasse a respirar difícil e rápido, com pernas pesadas e lentas.
Então, com um sorriso, os punhos da Razão se chocaram repetidas vezes, alternados, contra o peito e a cabeça da Emoção, que, após breve paralisia e turvamento, tombou como um boi na laje do matadouro.
Mann percebeu que a Vitória da Razão certamente lhe seguraria um posto culminante no escritório, que, aliás, ficava no 35º andar.
No cais, porém, enquanto esperava a barca, o simples bailado de uma gaivota lhe insinuou que a Emoção iria se recobrar para uma desforra.
Cláudio Feldman
Do livro: Vila Magra, Ed. Taturana, 2006, SP
Enviado pelo autor