Por que ler poesia?                                           

Fico admirada quando converso com pessoas, dentre elas muitos professores, que afirmam nem se lembrar mais qual a última vez que se dedicaram à leitura de poesia. Alguns sequer se recordam se alguma vez na vida leram poesia. À maioria, jamais ocorreu gastar dinheiro com um livro de poemas. Já se viu? Com tanto livro "útil" para ser comprado, vamos gastar o nosso suado e taxado dinheirinho com poesia?

Assim, parece que a poesia fica restrita a uma parcela mais lunática da população; aqueles que têm tempo para desperdiçar com as coisas que, supostamente, não tem utilidade prática, portanto, não geram lucro.

Em nossa sociedade neoliberal e individualista os que amam e se dedicam à poesia preservam o sonho libertário da construção de um espaço anárquico, cujo alicerce passa pela declaração de Rousseau: " Apresentam-nos a linguagem dos primeiros homens como línguas de geômetras e verificamos que são línguas de poetas (...) Não se começou raciocinando, mas sentindo ."

Quando falo de um espaço anárquico não me refiro à decantada torre de marfim na qual se isolariam os entes de uma elite intelectual que teria a chave de acesso ao reino da poesia. Antes, penso num reduto interior onde o sensível e o inteligível se mesclam e nos conduzem à revelação do poema e, através dele, da Poesia.

Ler poemas e amar a Poesia deveria ser uma atitude diante da vida, principalmente se recordarmos que, em termos de evolução, a poesia sucede a prosa assim como a paixão sucede a razão. Cohen disse que o poema é uma patologia da linguagem, que força a alma a sentir aquilo que geralmente ela se limita a pensar.

Visto dessa forma, o poema mete medo: tem poder para despertar nossa face mais atávica. Entretanto, é preciso não temer aproximar-nos da Poesia, dos seus sentidos que emprestam sentido às nossas paixões, aos nossos medos, nossas tantas perguntas irrespondíveis.

Render-nos ao fascínio da Poesia permite que nos abramos às infinitas possibilidades de sentir o mundo, os outros e, sobretudo, a nós mesmos.

  Sandra R. S. Baldessin

« Voltar