A MULHER IMORTAL

Na bela noite de lua cheia, eu afogando-me na solidão e na virose que abateu-me por dias, reencontro-a na comunidade do Orkut...
Ela nem sabe que meu último livro foi dedicado a ela.
Há cinco anos não nos vemos; desde que, batendo continência a deixei na rodoviária, seu rosto melancólico na janela...
Linda e morena no seu sorriso iluminado, l á está ela no PC de chapéu de bruxa, com aquela atmosfera única que um dia foi minha, sua sensualidade discreta.
Relembro conversas.
— Que parte do corpo mais gosta em VC? - Eu perguntava.
—"Meu cérebro. È muito complexo."
Uma vez me perguntou:
— Vc se sente flutuando quando beija?
— Sim.
— Ah, bom. Pensei que era a única maluca...
Ela indicou-me, fazendo mistério, o filme "Tempestade do Século".
E uma vez, como recordo!, ficamos oito horas abraçados no sofá...
Agora revejo-a.
Não sei se é a mesma garota engraçada, com o mesmo senso de parceria. Se sou uma boa lembrança para ela.
Eu mudei. Sei mais das contas e do peso do mundo; estou tristemente mais sábio. Mas percebo hoje, na torrente exata das lembranças imortais que continuo lá no rodoviária, batendo continência à ela.
Sua volta era o combinado.
Descobri que o tempo passou, mas não ela...
Ficou como uma canção cantada por Sinatra, um filme nostálgico e profundo, uma cena de primavera inesquecível; a namorada perfeita de tão humana que era...
Não fomos nós que nos separamos, mas a fatalidade. Vontade de dizer: retorna.
De todas as mulheres, somente a lembrança dela é nobre e sem mácula.
Por isso essa bela lua cheia sobre minha cabeça, brilhando como uma eternidade na rua que ando solitário.
Vontade de dizer: vamos ao mercado, comprar macarrão com carne de porco , macarrão com óregano e vinho tinto.
O tempo parou no tempo dela.

Marcelino Rodriguez

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