Mercado de almas

Um dos mais antigos sistemas mercadológicos existentes neste planetóide, avança peremptoriamente, aguçando o apetite das “negociações” que se utiliza das espécies pseudo consagradas tais como ouro, dinheiro, diamante, armas, drogas (tanto alucinóginas, estimulantes, como as farmacológicas também) prostituição, armas, escravização trabalhista e toda a honomatopéica banalização do senso humano. Esse elemento intangível, porém de inequívoca aceitação — consciente ou não por parte eclesiástica, suástica, científica e artística — por (con)senso comum denominado “alma”, no vasto mercado de compra e venda, vem confirmando-se como moeda corrente de insuperável aceitação por parte de quem sabendo muito bem o que fazer, induzem aqueles que sem perceberem, são utilizados quando pensam serem os utilizadores. Quem sabe já não estaria na hora das instituições financeiras desenvolverem planos de aplicação anímica a médio e longo prazo. Esse plano lhe daria direito a resgate de sua própria alma sendo que a mesma ainda ficaria como garantia caso você viesse a falecer antes do prazo da aplicação. Como morto não fala (no máximo apenas emite psicografias) durante a estadia corporal, o acordo estaria selado em sangue corrente. As bolsas de valores teriam um upgrade nas movimentações. O pregão lançaria dividendos anímicos. Muitos entrariam nesse jogo para ver seu capital aumentar consideravelmente. Outros, por conta de excessiva ousadia, veriam toda sua alma acumulada durante muitas experiências, desaparecer como em um passe de mágica. Os aplicadores profissionais, lançariam boatos que abalariam a confiança investida em muitas almas envoltas na ciranda pneumática. Surgiria em meio a toda essa nova ordem psiquê, uma conseqüência clínica e despudorada a respeito do desrespeito com a classe dos desclassificados animicamente: os pobres de alma. Não haveria como dar-lhes uma esmola que lhes alimentasse a alma.
Combalidos, e tidos já como sem nenhuma chance com o nada de alma que lhes afetaria, não distinguiriam a diferença entre estarem vivos ou mortos.
Os empolados, regurgitantes de riquezas psíquicas, continuariam empolados e regurgitantes de riquezas psíquicas, refletindo o brilho do vil metal anímico. A legislação não conheceria nenhuma lei que se pudesse aplicar a um “roubo de alma”. Por habitar um corpo, prendendo-o, estaria a alma solta a vagar e divagar.
Os altamente cobiçosos, desalmados, na vã tentativa de manterem seus ganhos “morais” acumulados em seus patrimônios, cegos, pensariam poder carregar suas riquezas de alma quando abandonassem seus cofres (aqui, uma nova terminologia corporal). Herança seria o bem mais temido pelos herdeiros diretos. Quem gostaria de receber um patrimônio supra-físico duvidoso, inflacionado pelas instituições desconfiáveis a ser incorporado à sua constituição psíquica? Seria melhor herdar castelos, mansões, quilos de ouro, do que um pote até aqui de almas endividadas pelo excesso de inobservâncias de si próprias. Não se tem mais como objetivo único e exclusivo o mercado de consumo mas sim o consumo dos consumidores. Consome-se seus sonhos, seus ideais, seus pés esfolados no trilhar do caminho da verdade. Para atingir esse objetivo, o mercado fabrica comportamentos de última geração, idéias pré-concebidas, anseios revolucionários e a maravilha da indústria do adestramento mental. Quem tem sua alma que cuide de si mesmo no valor que em si próprio está encerrado.
Venda seu aparelho de som, anuncie seu carro, ponha a venda sua casa, sua máquina de lavar velha, seus discos, seus livros e nada mais. Nunca, mas nunca publique: tenho uma alma usada em bom estado de conservação; vendo por falta de motivos para mudar.

Leandro Soriano

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