O MUITO BOM SOZINHO
— Lá vem ele! Se arranca!
E, de fato, Arquibaldo iria logo dizendo:
— Sabe que morreram, do ano passado pra cá, 12 membros de nossa Academia?
Enumerava um por um. Baixava uma nuvem sombria no ambiente.
Luiza resolveu tomar uma coca-cola.
— Não tome! Coca-cola tem ácito tartático! Corrói as paredes do estôpmago!
Agarrava o sujeito pelo primeiro botão da camisa. Tentasse ele sair, para ver!
Desenrolava uma tese sobre asunto técnico, que ele entendia da Medicina ao Direito, da Matemática à Geologia. Também era halterofilista.
Pedia dinheiro emprestado e pagava religiosamente, impedindo a gente de não emprestar mais.
As roupas, verdes. Isto é, o paletó. A calça, cáqui. E tinha um pigarro desses que fazem rrrô. Os sapatos rangiam. Dava pêsames por dá cá aquela palha. E se ofendia com tudo, fazendo bico.
Se estivesse num carro, em companhia de alguém, á, Arquibaldo, Arquibaldosinho, iria ensinando tudo, desde as marchas do carro a uns inexoráveis "Cuidado!" que faziam o motorista quase afocinhar nos muros.
Sozinho, entretanto, Arquibaldo era ótimo, muito ótimo.
Aureo Melo