E Agora?
E agora o que que eu faço com a minha alma rasgada e com o meu coração dilacerado? Por que é que ninguém me avisou que o jogo da vida era perigoso e que num passe de amor as moléculas das nossas certezas poderiam ser pulverizadas?
E eu que pensava que viver era simples e fácil, era só estudar, crescer, aprender e ter certeza de tudo para ter-se segurança e desfrutar a vida. Por que será que Deus permite que seus filhos façam o caminho inverso daquele percorrido por Jesus?
Eu pensei que a emoção era um vulcão que entrava em erupção quando alguma coisa muito surpreendente ou esperada acontecesse, mas descobri que ela pode ser descoberta em uma canção. Eu pensava que o medo era algo apavorante que a gente sentia quando estivesse diante de uma situação muito ruim, mas aprendi a duros golpes que se pode sentir o mais terrível dos medos na iminência de ocorrer algo muito bom também.
Eu achava que o pranto era um black-tie guardado para ser usado em ocasiões especiais, mas agora eu sei que ele é o companheiro daqueles que amam, dos que têm pudor e consideração e daqueles que têm a perder, pois aqueles que já não se importam com nada não têm liberdade, vontade e nem razão para chorar.
E agora o quê que eu faço com as minhas certezas? Aonde eu coloco a minha experiência construída com sacrifício por muitos anos? Por que nunca ninguém me disse que tudo isto era bobagem, que a experiência é só o acúmulo de ocorrências passadas do peito para fora, pois o que acontece do peito para dentro não obedece a qualquer tipo de lei ou axioma, que a canção que soa da boca para fora é apenas o eco dos gritos expulsados dos cantos mais recônditos da alma?
E agora aonde é que eu durmo? Aonde eu embalo os meus sonhos de elevação do espírito? A minha vontade é virar do avesso e colocar para dentro a minha experiência e para fora o meu coração embrulhado na minha alma toda remendada de sentimentos e paixões.
Infelizmente ou felizmente, eu não sei direito, a vida é deste jeito, não fui eu que a inventei e por isso ela tem que ser bordada com fios de amor, de paixão, de amizade, de sentimentos, de ilusão e sonhos, mas com a agulha que espeta o peito e sangra o coração.
O ser humano é feito em camadas, uma sobrepondo a outra fazendo pesar sobre cada uma delas o peso das experiências externas que ao serem vividas se transformam em venenos e néctares que fazem o gosto da boca variar da água ao vinho ou do fel ao mel.
E agora? Por que ninguém me avisou? Agora eu tenho a experiência dos imbecis, a inocência dos ignorantes, as dúvidas dos fracos, o amor dos gigantes e os sonhos de um menino.
Leo Sliwak