E nossos rios?

    Todo mundo feliz e satisfeito com a possibilidade de perenização de vários rios paraibanos com a transposição das águas do Rio São Francisco. Mas ainda não vi ninguém falando o quê vamos fazer mesmo pelos rios paraibanos? Quais vão ser nossas ações quando essa água chegar? Ou melhor ainda, quais serão mesmo as nossas responsabilidades com essa perenização? O que estamos fazendo para que essa água sirva de fato para tirar os doze milhões de nossos irmãos e irmãs da sede e da pobreza extrema em que se encontram no semi-árido nordestino? O que estamos fazendo hoje para preservar os nossos rios, mesmo esses que estão secos? É mesmo o quê?

    Tenho algumas preocupações e gostaria de dividi-las com vocês. Acho que de cara temos que cuidar de duas questões básicas no plano da revitalização e preservação. A primeira delas é refazer – replantar – as margens dos rios. Refazer suas matas ciliares. A segunda é conter a poluição por esgotamento sanitário em várias cidades paraibanas. É um absurdo o que acontece nessa área hoje na Paraíba. Dezenas de cidades drenam seus esgotos para córregos, riachos e rios. E isso não pode continuar. Temos que ter um programa de saneamento básico para o tratamento adequado dos resíduos produzidos pelas cidades ribeirinhas de forma urgente.

    Quanto ao lixo produzido por essas cidades, temos que achar soluções criativas e duradouras. Temos que multiplicar os aterros sanitários com orientação técnica e aumentar a capacidade de reciclagem do lixo. Daí a necessidade urgente de sanear as cidades que estão na beira dos rios na Paraíba. Precisaremos também, começar a montar os viveiros de mudas nativas para o replantio das matas ciliares. Se o rio vai ficar perene, temos que ter pelo menos uns mil metros de cada lado da beira do rio preservados em matas nativas. Mas precisamos começar a montar essas sementeiras agora. Para que quando a água chegar comecemos de imediato o reflorestamento.

    Vejo atualmente uma preocupação muito grande – justa e acertada – com a revitalização, proteção e recuperação do Rio São Francisco. Existe até orçamento previsto para os próximos vinte anos. A proposta tem mais de vinte bilhões de investimento na preservação e recuperação do Rio São Francisco. Mas na Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará quais são os planos? O que se vai fazer para recuperar os nossos rios? Pois exigir providências em rios de outros estados é muito fácil. Mas os daqui vão começar ser revitalizados quando? Precisamos envolver a sociedade civil. As entidades públicas e privadas numa cruzada de trabalho e consciência ecológica. Para que possamos dar passos largos nessa direção.

    Evidentemente que esse tema sugere vários artigos. E espero que eles apareçam cercados de idéias e sugestões, para que possamos avançar, pois esse tema sempre foi tratado na Paraíba com certa displicência. Veja o caso, por exemplo, do nosso Rio Paraíba. Hoje, agorinha mesmo, estão sendo retiradas carretas e mais carretas de areia do seu leito em vários pontos. E tudo isso sob o olhar conivente e irresponsável das autoridades que deveriam justamente coibir tal prática. Todos sabem os efeitos disso. Até o Porto de Cabedelo se ressente dessa ação irresponsável. Pois parte dessa areia solta no leito do rio desce rio abaixo – quando chove – e vai aterrar justamente o calado do Porto de Cabedelo. Pois é! Nossos rios paraibanos ficarão mesmo como, com a chegada eminente das águas do Rio São Francisco?

Ivaldo Gomes

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