DOIS QUENTES E UM FERVENDO
Enquanto escrevo, vejo na TV uma juíza que favorece traficantes ser promovida de posto dentro do sistema judiciário. Vejo um trem cheio de autoridades ser alvejado a tiros pelos bandidos da favela, e vejo uma dessas autoridades dizer que isso é normal , que não há nenhum problema.
Outra cena me mostra as florestas pegando fogo, ressequidas. Mas alguns desses incêndios são criminosos, como o que está ocorrendo em Carajás. Em seguida, permanece o voto secreto na plenária do Congresso. O presidente Lula faz charme com as galegas da Finlândia, surpreendentemente menos louras do que a nossa primeira-dama.
É por isso que não gosto de ver a TV aberta. Aumenta o meu sentimento de que o mundo piora a cada dia, e o Brasil piora numa velocidade muito maior.
O FIM DA DELICADEZA
No cotidiano, vemos como está acabando o tempo da delicadeza, da elegância, das boas maneiras. Os jovens estão cada vez mais grosseiros, mais brutamontes, mais parecidos com animais do que com gente.
É só entrar no elevador com uns três ou quatro meninos de 16, 17 anos pra você entender o que estou dizendo. Quando se reúnem na piscina do prédio, berram e gritam o tempo todo "Carái!", "Porra!", "Puta Merda!" Nem com as garotas que querem namorar são gentis, relacionando-se a patadas e encontrões, como se o fato de demostrar gentileza fosse por em dúvida a masculinidade deles.
Nos programas de TV de gosto duvidoso cujo modelo é importado do Estados Unidos, a rapaziada aprende a se divertir constrangendo as outras pessoas. E tome brincadeira sem graça, onde outras pessoas são obrigadas a pagar mico para alegria e divertimento da malta.
Um dia desses fui ao aniversário da filhinha de dez anos de uma amiga. As mesas eram decoradas com uma pequena luminária de várias cores, um dessas bobagens chinesas, mas colorida e que tinha um efeito lindo no visual do salão. Pois ainda antes do parabéns, não havia mais nenhuma. Os convidados já haviam cada um guardado "a sua" na bolsa para levar para casa. Isso antes das fotografias. Na mesa onde eu estava, uma das convidadas disse: "Corre, corre, pega uma pra você também." Eu, chocada, nem mexi. Passar um fatura de má-educação por uma bobagem made-in-China que custa seis reais!
E eu, como freqüento pouco, nem sabia que estava me ouriçando à toa, porque parece que é praxe levar a decoração para casa!
Eu, hein?
NÃO SEI SE ADIANTOU...
Fui criada me comportando bem dentro de casa, porque "costume de casa vai à praça". Deixando sempre um pouquinho de comida no prato para não parecer esfomeada. Chamando as pessoas de Sr. e Sra. até receber autorização para o Você. Levantando e cedendo lugar aos mais velhos: no ônibus, na sala de espera... Mastigando com a boca fechada. Ficando em silêncio no cinema. Não penteando o cabelo nem colocando baton em público. Esperando a minha vez para falar, sem interromper os outros no meio da frase.
VEM AÍ O BIG BROTHER
Enquanto isso, vejo na TV as chamadas para a nova edição do Big Brother . É mais uma edição desse verdadeiro cursinho para a educação da população brasileira.
Aprende-se a grosseria, a burrice, a sensualidade bruta, os erros de vernáculo, a traição, a manipulação, o vale-tudo-por-dinheiro.
É
E eu vou parar por aqui que estou braba que estou danada!
E fiquei mais ainda vendo a palhaçada que ora ocorre no Senado Brasileiro por não ter, como cidadã, direito de saber o que está acontecendo lá dentro. Que vergonha!
Clotilde Tavares