Robezilda comoveu-me. Chorava a morte do filho de 8 anos, no Rio de Janeiro, vitimado pela dengue. Sonhos desfeitos em alguns dias. Desfilando diante de meus olhos, filas enormes, a agonia de pessoas com crianças ao colo aguardando por um atendimento, adultos desfalecendo, a falta de vagas nos hospitais... Uma juíza deu 24 horas para o Estado e a Prefeitura do Rio de Janeiro atender aos pacientes contaminados ou com suspeita de dengue. Hospitais de campanha sendo montados pelas Forças Armadas na Barra da Tijuca. Norte e Nordeste do país com notícias de epidemia em trinta cidades, sete capitais. Criança de uma escola infantil desesperada correndo atrás de um mosquito para matá-lo e nem era aedes aegypti ...
No início do século passado, a determinação médica para erradicar a febre amarela — doença transmitida pelo mesmo tipo de mosquito. A figura de Osvaldo Cruz é relembrada nos noticiários, o movimento sob sua liderança para o saneamento do Rio de Janeiro, a resistência a ponto de tumultos urbanos. Ele consegue atingir os objetivos naquela época. Osvaldo Cruz falece em 1917. A doença reaparece em 1928 de forma explosiva, e somente em 1957 foi considerada erradicada no Brasil durante a XV Conferência Sanitária Panamericana. Agora, o aedes aegypti volta a atacar em grupos estratégicos em qualquer canto, até nos pátios das casas. Resultado como febre amarela ou dengue, os danos são enormes.
Recentemente, corrida da população para tomar vacina contra febre amarela. Estoques se esgotam. Não fiquei admirada. Em 2006 fui a um posto de saúde para receber esta vacina por causa de uma viagem ao Equador. Enquanto era atendida, meus olhos se espantaram diante de um mapa do Brasil indicando as áreas de risco, até no Rio Grande do Sul! Desconhecia totalmente, senti-me desatualizada. Seria só eu? Perguntei a um e outro, o espanto foi geral, estavam na mesma.
Veio da África durante a colonização. O aesde aegypti começou a proliferar-se no século XVII e continua fazendo estragos. É a vida nos cobrando continuidade de ação, respeito para convivermos pacificamente e um dia podermos dizer, parafraseando Kleiton & Kledir: deu pra ti ... aesde aegypti . E só falarmos sobre o mosquito que escreve de Cecília Meireles.
Sonia Alcalde