No ano de 1997, em uma escola de Guaíba, ocorreu um fato, que muito me emocionou. Um senhor dos seus 52 anos fazia o ensino médio noturno, só que em sua turma o aluno mais velho era ele e a gurizada “zoava”, faziam bagunça e colocavam apelidos no pobre homem.
Este senhor aborrecido com a diferença de idade e com as brincadeiras feitas pelos colegas adolescentes, parou de freqüentar a escola. Ao retornar naquela turma, percebi a ausência daquele aluno que, mesmo com suas restrições, pedia gentilmente explicações da matéria com muito interesse e vontade de aprender, mesmo sem estudar há vinte e cinco anos. O retorno à escola, para concluir os estudos, era uma exigência da empresa na qual trabalhava. Perguntei à turma e os alunos informaram que o Sr. Rodrigo tinha parado de estudar devido ao conflito de gerações. Conversei então com os alunos sobre o comportamento da turma e os fiz perceber que aos 52 anos de idade ele teria muita dificuldade em conseguir outro emprego, já que no atual estava há quinze anos. A turma apresentava um comportamento displicente e desvinculado das necessidades humanas. Foi o momento de pararmos e fazermos juntos uma grande reflexão sobre o respeito às diferenças. A partir daí, a turma resolveu ajudar o Sr. Rodrigo a retornar para concluir seus estudos.
Fui até a secretaria da escola e obtive o endereço do aluno e me dirigi para lá. Chegando em sua residência, o mesmo surpreendeu-se com minha visita. Assim, me fiz presente na vida de seu Rodrigo, conversamos durante horas sobre a importância dos estudos e de seu retorno à escola. Ele , concordou e agradeceu humildemente a minha visita e emocionado, sentiu que alguém se importava com ele. Naquele momento, percebi o quanto aquele gesto meu foi importante para aquele aluno, pois dei a segunda chance dele crescer como cidadão e pessoa humana.
Ao voltar a sua turma, os colegas modificaram suas atitudes e seu Rodrigo passou a ser um grande companheiro daqueles adolescentes, aconselhando-os em seus problemas cotidianos.
Vejo, hoje, a importância daquela atitude que deixou em meu coração uma mensagem maior do dever cumprido.
No final do ensino médio, aquela turma me escolheu como paraninfa, motivo de orgulho e emoção, ao chegar acompanhando-os na grande noite da FORMATURA. Os nomes foram sendo chamados e, de repente, o aluno Rodrigo aproxima-se do palco para receber seu diploma e eu o entrego chorando de emoção. Parabéns, aluno Rodrigo. Você venceu esta etapa de sua vida.
Vera Lucia Martins Salbego