Dietas envelhecentes

Fazer regime durante a envelhecência é uma desgraça. Especialmente quando se passa da fase em que as aparências importam. Encostei o burro há muito tempo e não ligo para o que falam. Aliás, o fato de ser gordo já foi incorporado ao meu folclore. Em casa, entre os familiares e no trabalho, ser “O Gordo” passou de problema a assinatura.

No trabalho, por exemplo, eu não sou o Maurício Cintrão, sou o “Gordo”, ou o “Gordinho” para os que me conhecem há mais tempo. Mesmo para aqueles que chegaram agora na empresa, o apelido virou sobrenome. Porque o presidente da companhia também chama Maurício e, invariavelmente, me identificam como o Gordo, para evitar confusões.

Mas eu falava do regime. Bom, então por que estou fazendo regime?

Até bem pouco tempo, eu trabalhava naquela categoria disforme dos terceirizados. Sai mais barato para todo mundo e você pode ser explorado com maior facilidade e menores custos. E ainda posa de contente, porque tem a ilusão de estar “ganhando mais”. Como o volume de impostos e descontos é menor, a receita líqüida parece maior.  Você só percebe o tamanho do estrago quando fica sem férias, sem 13º, sem prêmios e sem garantia nenhuma.

Pois bem, este ano, fui recontratado pela empresa para a qual trabalho há mais de oito anos. E toda a contratação que se preze pressupõe a liturgia dos testes admissionais. Preenchi todas as fichas, babei para a psicóloga e fiz a bateria regulamentar de exames dos líquidos e sólidos fundamentais. Nem precisava de tudo isso para saber que estou parecendo cozinha de pastelaria: só gordura. Como não posso beber Veja Multiuso (não tentei, mas o bom senso sugere que não o faça), achei melhor atender ao conselho médico de fazer dieta.

Voltamos então ao começo desta crônica. E quem disse que é fácil fazer dieta a esta altura do campeonato? No refeitório da empresa, sou olhado como um coitadinho. “Vai comer só isso?”, diz a Dona Bernardete diante do meu pratão de salada. “Você quer que eu faça um pudim diet?”. Não, não adianta dizer que estou conseguindo sobreviver sem feijoada e picanha. As pessoas me olham com um misto de piedade e horror.

Percebo as vantagens da dieta na prática. Caibo em roupas que estavam embolorando no armário. Aperto o cinto dois furos a mais. Tenho mais disposição para caminhar. E as camisetas que me faziam parecer um colchão amarrado já não estão apertadas. Aí eu falo todo orgulhoso: vocês não estão reparando que as roupas estão mais folgadas? E quem olha concorda como se eu fosse desmanchar se revelassem o que realmente pensam. Da uma vontade danada de mergulhar em um pote de dois litros de sorvete.

Maurício Cintrão

« Voltar