Domingo no Shopping

           Certo domingo ensolarado, sem ter nada a fazer, resolvi entrar em um Shopping de São Paulo, a fim de passar algumas horas me distraindo.
            Tomei um cafezinho na entrada e já me encontrava preparado para andar quilômetros no interior daquela torre de babel.
           Um passeio destes permite várias observações: pessoas com o objetivo de lazer, compulsões de consumismo, diferenças em poder aquisitivo reflexo de uma economia de mercado, pessoas de todos os credos e raças, enfim é mesmo uma babel.
           Um casal de jovens passeava pelo corredor observando as várias vitrines que se lhes apresentavam, todas bem arrumadas com motivos natalinos e condições as mais variadas possíveis estampadas, quando em uma destas lojas se aproximou do casal, uma vendedora, muito educada e solícita, disposta a mostrar-lhes o que a moda jovem apresentava naquele momento.O casal se interessou e adentrou a loja. A vendedora, por sua vez, ficou contente, pois seria um cliente em potencial.
           Continuei a andar.
           Belas vitrines todas enfeitadas para o Natal, sempre chamando as atenções do consumidor. Planos de pagamentos os mais variados possíveis, vantagens bastante acessíveis à escolha daquele que deseja realmente comprar um determinado produto.As condições oferecidas, certamente iriam atender aos bolsos daqueles usuários que por ali transitavam.
           Ao passar por uma das livrarias existentes naquele Shopping, resolvi entrar e me encaminhei para uma das estantes mais concorridas para o assunto que me prendia. Alguns títulos estavam expostos como os mais vendidos em determinado período.
           Tomei nas mãos alguns desses livros e fui buscar as informações que realmente mais me interessam: título, editora, edição, preço, etc.
           Uma vendedora se aproximou, falou-me brevemente sobre o livro e resolvi comprá-lo.Muitas eram as pessoas que se encontravam no interior da livraria. Cada uma tinha já o seu objetivo definido, pois as compras foram se sucedendo umas após outras.Fiquei muito satisfeito por ver que aquelas pessoas apreciavam a leitura. Isto é muito gratificante e não muito comum.
           Continuei a caminhada. As lojas se encontravam, principalmente as de confecções, com preços mais convidativos, todas reviradas em cima das bancas, com as clientes experimentando vários artigos, algumas comprando, outras não, enfim com grande movimento.
           As crianças estavam se esbaldando com tanto espaço, o que certamente falta quando se reside em apartamentos.Viram o Papai Noel em tamanho natural, o que despertou maior interesse momentâneo, os brinquedos, os chocolates enfeitados e o desejo era só um, adquirir de tudo um pouco. Era difícil escolher, pois a variedade muito grande, agradava a todos os gostos e bolsos.
           Então surgia a intervenção dos pais, que dentro de um consenso com os filhos, adquiriam os brinquedos balas e quinquilharias almejadas.Em outras lojas de cosméticos, as demonstradoras de perfumes aplicavam as suas amostras com o objetivo de agradar seus futuros clientes. Segundo elas, cada perfume era melhor do que o outro. É a concorrência.
           Como já havia andado alguns corredores, subido e descido por aquelas confortáveis escadas rolantes, dirigi-me à área de alimentação, pois, como diz o dito popular “saco vazio não para em pé” e o meu estômago realmente já dava mostras de que a hora da refeição já era chegada.
           O movimento era intenso naquele horário, tornando-se difícil uma mesa para uma refeição, porém, tudo era distração, objeto do meu passeio.Consegui uma mesa vaga, marquei-a e fui fazer o meu pedido em uma casa italiana, escolhendo um prato rápido.
           Durante a minha refeição fui analisando que tipos de problemas poderiam existir por de traz daquele movimento todo. Chefes de família trabalhando até tarde para poder levar o sustento para a sua casa; jovens se desdobravam para obter uma certa folga financeira no Natal; senhoras que se voltavam ao trabalho com afinco e com as melhores caras sabendo em seu interior que pouco ou nada venderam nesse dia, aguardando o amanhã; os responsáveis pela segurança na parte interior do Shopping expondo a própria vida em troca do conforto dos clientes, os gerentes das lojas preocupados com a folha de pagamentos, impostos e taxas e as vendas não correspondendo e os proprietários preocupados com os aluguéis no final do mês, etc.
           Enfim, ocorrem situações de muita instabilidade emocional, muita angústia, que só os que estão passando por estas situações é que podem sentir. Observa-se que a desigualdade social que assola o nosso país se encontra presente até no que podemos chamar, nós usuários de classe média a média alta, de ambiente de lazer. Não estamos nos referindo a outras classes sociais, pois estas, infelizmente não conseguem chegar a um Shopping. Até quando?
           Para nós, o Shopping é uma distração e para os lojistas, empregados, proprietários das lojas, seguranças, etc? Preocupação, tristeza, angústia? Mas, a desigualdade age dessa forma.
           Resta-nos pensar quando teremos uma situação social mais justa, digna e coerente. Infelizmente, a nós, cabe apenas a reflexão, não a solução.

Alberto Metello Neves

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