Fragmentos
A cada dia que passa me convenço mais que o mundo entortou.
Olho e tomo como exemplo este rumoroso episódio da menina penalizada com a morte por ter sido vítima de um engano genético, ter nascido de um monstro. Isso é uma opinião pessoal, mas me parece que a maioria do povo está com a mesmíssima "opinião pessoal!". Mas também não posso deixar de perceber que monstros se criam, são feitos, ou deformados, por uma educação que, na maior parte das vezes, deseduca por proteger demais. Uma educação que corre com o lenço, antes mesmo da lágrima. Corre com o prato antes da fome. Corre com a desculpa antes do erro vir a público. Corre com o socorro e o apoio antes da penalização.
Olhando pela ótica do avô da menina, o filho dele, um encostado que vive as suas expensas, pois apesar de trabalhar com ele, quase nunca é visto no escritório, é inocente. Ainda pela ótica do avô, a mãe da menina mentiu em entrevista, o povo anda fazendo julgamento sem provas e sem direito de fato, pois quem julga é a justiça. Mas ele zomba da justiça a todo momento com seu meio sorriso de escárnio. As mentiras do filho dele não precisam ser explicadas, é só passar a página e deixar cair no esquecimento. Quer um exemplo? Alguém arrombou a porta e invadiu o apartamento!... Isso foi dito e tem testemunhas, mas ah, deixa pra lá e vamos partir pra invenções mais mirabolantes. Onde a dor, o luto, a indignação, o estupor pela morte da neta?
Isso a ele não interessa, o filhinho dele está sofrendo, pobre coitadinho.
E o sofrimento de um ser que nem idade tinha para se defender?
Ele nisso não fala, não é o foco. O foco dele é tentar fazer com que todos nós passemos por insanos, só assim ele poderá resgatar a imagem de normalidade do "homem" que gerou, mas que nunca deixou virar homem de fato.
Este filhinho de papai, tentou várias vezes o exame da OAB, não passou.
Eu sou leiga no assunto, me respondam vocês, ele é advogado ou não?
Ele "trabalha" com o pai, mas lá não comparece, de novo me iluminem, ele tem emprego ou só salário (ou mesada!)?
O apartamento deste filhinho, e o da irmã também, foi comprado pelo pai.
Isso foi fartamente publicado pela imprensa.
Resumindo: Sempre foi sustentado, apoiado até nos erros, nada lhe foi cobrado, nada lhe foi ensinado de ética!
Eu começo a pensar que, se ele passar de suspeito a culpado num julgamento sério, sem interferências ou sem os atenuantes que o dinheiro infelizmente compra, pois é com grana alta que se paga tres advogados, o pai será tão, ou mais, culpado que ele.
Mas o que realmente me deixou estarrecida foi o vídeo amador gravado durante a tragédia e posto a luz! Onde anda a mãe deste indivíduo, que gritava sua dor, aos berros de " quero o assassino da minha neta aqui, na minha mão". Não me pareceu teatro, ela me convenceu da sua total ignorância dos fatos e da veracidade do seu desespero. Coisas que o pai / avô e a irmã / madrinha, não conseguiram passar: Verdade na dor!
Mas, como todas as peças que atrapalhavam, esta também sumiu... É urgente que se cobre a presença desta mãe. Ela não pode ter se evaporado de uma hora pra outra.
Bem, quanto a madrasta, todos nos fartamos com histórias infantis onde elas sempre eram bruxas más! Esta me parece apenas uma descontrolada, que por ser muito melhor de berro, dominava o marido e o deixava sem ação ou reação perante o seu linguajar e o volume de decibéis que emitia a cada desavença.
E ele, assustado com os surtos e seus desdobramentos e efeitos, telefonava pro papai. Era assim que a família era unida, pro bem e pro mal, pra vida e pra morte!
Não estou acusando, não estou inventando. Todas estas considerações acima foram tiradas de notícias publicadas. Mas urge que este pai / avô se redima e ensine, embora um pouco tarde, a seu filho, o valor da verdade, seja ela qual for. É notório que todos sabem mais do que dizem.
E quanto a confissão, e novamente é o "meu" ponto de vista, já foi feita faz tempo... No exato momento em que ele e a madrasta se recusaram a participar da reconstituição para não fornecerem provas contra os próprios.
Quem não tem culpa não pode fornecer provas contra si, nem se esforçando muito!
E por favor, entreguem, como foi pedido (assim que acharem, claro), o assassino desta pobre criança, vítima de um descontrole de quem quer que seja, nas mãos desta avó paterna, sofrida e sumida... Talvez ela faça por ele bem melhor e mais que qualquer julgamento, pois, salvo grave engano, é a única capaz e lúcida neste saco de insanos.
FRAGMENTOS Andreia Donadon Leal Dia de domingo é enfado enfadante, ou mesmo, redundante. Sem nenhuma inspiração intelectual ou mesmo artística, esbaldar de comida engordativa, neologismos sem neo, não interessa se a palavra ofende os olhos do leitor repleto de academicismo. Esta maldita segunda-feira infernal está com pé quase no dia de descanso. Amanhã, tristemente, segunda-feira, chefe de cara amarrada, autoritário, nervoso, mais calvo e burro com o perdão dos animais. Segunda-feira deduz que o chefe é mais desprovido de conhecimentos que você... É mais desprovido de bom-senso, é mais desprovido de humanidade; é mais desprovido de vocabulário, é mais desprovido de idéias, é mais desprovido que todos os seres desprovidos. Será que você é o ser mais desprovido de chefe desprovido? Engole o tédio ácido que corrói lentamente os acordes estridentes vindos da televisão e showzinho patético de domingo: os terríveis e massacrantes programas de auditório. Se bem que dia de semana, a programação muda de roupagem, entretanto não ganha muito conteúdo, talvez mais descarrego de desgraças. Vê a cara de satisfação do repórter ao frisar: diversas pessoas foram assassinadas em chacina! Roubaram, mataram! Não precisa ser pobre para roubar, descobre? Miserável, abandonado à própria sorte e desesperado. Rico e engravatado rouba e rouba descaradamente, inteligentemente. Não fica preso. Safa-se, na boa. Quanto mais sangue e escândalos, mais lucros. Tem medo de ligar o aparelho de televisão e se deprimir. Depressão fica sarada com psicanalistas, psicólogos e psiquiatras. Tem medo de chegar perto da janela e tomar uma bala “perdida” propositalmente de alguém que atira bala de chumbo por todos os lados. Tem medo de tudo e de todos, até da sombra. Com pote de sorvete na mão, os pensamentos voam para além da tela de plasma. Pasmo de aflição não dicionarizada da verborragia inefável de querer dizer nada, fazer nada, sentir nada, tirar o time de campo. Uma expiração ajuda? Um suspiro enfastiado limpa o pulmão colorido pela fumaça de nicotina. Se bem que parou de fumar há algum tempo. O aroma da comida atraí mais. Entreter a boca com alguma coisa ao invés de soltar ares de poluição. Os moleques não brincam com a bicicleta na rua. Não sentam no passeio com mais molecada e ficam a toa ou soltam pipas ou jogam bola ou ficam na rua mesmo jogando conversa fora. Estão encarcerados dentro do quarto, com olhos vermelhos de mirar a tela, com dedos teclando com ditos amigos virtuais. Informatização, globalização, flexibilização, on line, automatização, site, tele marketing, etc. Internet-vídeo-celular-tele-pizza-fax-email... Nem um chio, sussurro, miado do gato que ninguém mais olha. De lado, abandonado, depressivo. O cachorro jogado no quintal olhando a lua. Perplexamente, o cachorro olha a lua, talvez converse com ela ou namore-a. Sonha? Quem sabe dizer se cachorro sonha, medita? Mais racional? Mais zen? Na dele, na boa; de namoro com a lua. Dia de domingo é enfadante? De novo? Se bem que começamos todo dia numa ciranda sem música, ou com música lancinante. Os ouvidos não têm noventa anos, e é obra de Duchamp. Percebe que faltam algumas horas para o domingo findar e o calendário virar, com nostalgia. Domingo é chato, medita? Domingo é dia de abandono de pensamentos e ações mecanizadas, voltar para dentro de seu mais íntimo eu. O corpo despejado de qualquer jeito em frente à televisão, os pensamentos ganhando sentimento e o cachorro do lado de fora namorando a lua. Andreia Donadon Leal
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