O sol jogava seus raios, sobre as brancas ondas espumantes que beijavam a areia da praia. Ao longe, no horizonte, mar e céu se confundiam, se mesclavam propiciando uma paisagem de mágico encantamento. O homem de estatura média, bermuda e camisa coloridas, tipo todas as cores do arco-íris, era o típico turista com cara de bobo que filma tudo o que vê! E vale aqui salientar, que o termo cara de bobo, de forma alguma significa que o portador do vasto sorriso seria um apalermado, um otário!
A expressão poderia muito bem ser substituída por, deslumbrado, espantado, encantado, boquiaberto, ou algo que o valha! O fato é que, diante de tal beleza e esplendor, o referido turista pensava lá com os seus botões:
– O Criador, quando criou o Rio de Janeiro (e no seu pensamento não havia nenhuma crítica à qualquer prática religiosa, muito menos, alguma ameaça de heresia), deveria estar acometido de uma súbita, repentina, e compreensível mania de grandeza!
Não era pra menos, pois era evidente que o Ser Supremo quisera colocar ali, várias réplicas do paraíso, as provas eram inúmeras e incontestáveis! Ali estavam as praias mais lindas do mundo, e por elas, multiplicavam-se Evas de formas esculturais e sorrisos majestosos, lindos olhos de jabuticaba, de esmeralda, de mel, exibindo o corpo dourado, cheio de energia solar, verdadeira explosão de adrenalina caminhando provocante, como já dissera o Poeta, "num doce balanço, a caminho do mar!" A alegria contagiante do carioca, comprovadamente conquista nativos, gringos, gregos, troianos, e outros! O Rio de Janeiro é uma divina declaração de amor ao mar, a natureza, a beleza, e até mesmo, ao ócio, já que ninguém é de ferro! A realeza da Princesinha do Mar é reconhecida mundialmente, e é ali, em Copa, que as coisas acontecem, Ipanema é a capital internacional da moda de praia, e a bem da verdade, que morram de inveja os gringos, a mulher brasileira é o que há de mais belo neste mundo!
As águas cristalinas da piscina natural da Praia Caxadaço, na Ilha Grande; Búzios; Cabo Frio; a Praia do Canto em Paraty; Grumari; a Gruta Azul, no Arraial do Cabo; os 18 Kms da Barra da Tijuca, a praia mais extensa da cidade; São Conrado, de onde se pode criar asas e planar livre, leve e solto, sobrevoando um pedaço do paraíso; a Prainha, reduto de surfistas e privilegiados, são apenas alguns exemplos desses recantos de tropicais encantos ! O mar é um agente catalisador, a praia é a mais pura expressão democrática de lazer, onde senhores de cabelos grisalhos, em plena flor da terceira idade, corpos queimados, fazem a sua costumeira caminhada, de olho nas gatinhas, que com aquele ar de como é chato ser gostosa, desfilam seus corpos exuberantes e excitantes, despertando guerreiros adormecidos que se sentem renovados, prontos para qualquer combate.
A miscigenação é total, irrestrita e acima de qualquer suspeita, rapazes sarados fazem caras e bocas, e exibem músculos em camisetas regatas do tipo, mamãe quero ser forte! Os ambulantes apregoam os seus produtos;
– Sorvete! Água de Coco!, Raspadinha! Camarão! Cerveja!, Caipirinha!
O turista mirou sua câmera ao longe, seus olhos se encheram de um azul esverdeado, ou seria de um verde azulado? Aos poucos foi despretensiosamente pousando seu olhar em outras paisagens. Uma bateria de coloridas pranchas, fincadas na areia da praia, parecia escoltar um grupo de surfistas. Bem perto, um grupo de pessoas conversava animadamente, óculos escuros, sorrisos nos lábios, latinhas nas mãos, mulheres de todos os tipos, se bronzeavam estendidas em esteiras ou toalhas multicoloridas, com estampas que pareciam querer competir com o uniforme do despojado turista.
A lente da câmera pousou acintosamente sobre a bunda exuberante da linda mulata que corria em direção às ondas, era a mais pura tradução do que é o paraíso! A bola de vôlei, inesperadamente levou ao chão um castelo de areia. A lente do turista capturou crianças correndo e brincando despreocupadamente, enquanto algumas mães se esguelavam bradando ordens de: – Tomem cuidado!
O homem de barba, sentado ao lado da loira deslumbrante, que exibia seus sensuais atributos físicos dentro (o melhor seria dizer fora), do minúsculo biquíni branco feito nuvem de algodão, atendeu o celular de última geração, que entre tantos outros aparatos e recursos tecnológicos, servia, inclusive, pra telefonar. O brilho do enorme anel de ouro cravejado de rubis e diamantes, faiscou em ofuscante provocação. Numa fração de segundos, o homem se viu repentinamente cercado por quatro rapazes, os raios do sol refletiram no cano da pistola automática; Perdeu!!! Perdeu!!!, e num átimo, o celular e o anel mudaram de mãos!
Assombrado, o turista com cara de bobo que filma tudo o que vê, constatava uma realidade: Ele tinha quase certeza de que o Criador, após criar a Cidade Maravilhosa, ficara com a pulga atrás da orelha, isto é, presumindo-se que ele já houvesse criado a pulga! Um dia, certamente alguém iria questionar a razão daquela natureza magnífica, com a qual ele premiara a cidade, talvez por isso, é que fatos lamentáveis como aquele ocorriam constantemente, era uma maneira que o Criador encontrará de se desculpar perante o resto da humanidade, pelo privilégio concedido.
Na praia realmente imperava a democracia, gordos, magros, feios, bonitos, sereias, mulheres não tão sereias, num convívio sem qualquer preconceito, todos eram iguais, e nem mesmo tendo o céu, o sol, e o mar por testemunhas, ninguém estava livre de ser repentinamente abordado por alguém gritando em seu ouvido, a palavra que era a última trincheira entre o sonho e o pesadelo:
– Perdeu!!! Perdeu!!!
Antonio Carlos de Paula