A bebê e o pavão

– Anda, coma! – dizia a ama portuguesa Albana de Jesus, a quem todos da casa chamavam por "Ana", para uma menina bebê, que tinha dificuldade em se alimentar, e padecia da doença que agora é bem conhecida, que faz vomitar todas as refeições.

A bebê comia, na sala onde uma parede estava coberta por uma imensa tela de gorgorão de seda, bordada com um galho de pessegueiro florido, em que um pavão em tamanho natural, estava pousado – era presente do Imperador do Japão, pai do Imperador Hiroito, que presenteara o meu avô Almirante e Senador.

A bebê comia, olhando com seus olhos de "jabuticaba madura", o imenso pano pendurado como ornamento de parede de sala.

A bebê cresceu, fez-se adolescente, fez-se mulher, sempre vendo aquela belissima tela.

Um dia, a bebê foi à India, lá no Sul, perto de Madurai, e rendeu homenagem à seu chefe e patrono espiritual Murunga, justo aquele que monta o Pavão.

 

Ontem, recebi um presente, enviado pelo Correio, de minha amiga Gerda Brandão: um pavão de madeira, do tamanho de um pombo, corpo coberto de penas, e um rabo com suas famosas penas ornadas por "olhos amarelo ouro e azul", de uns 50 cm, o qual, por um mecanismo interior acionado por pilhas, abre a cauda, leque dos deuses.

Fiquei tão contente, que destronei a deusa Parvati, mulher do deus Shiva, estátua de bonze que ficava sobre uma prateleia também em bonze, e coloquei o pavão, encimando fotos de baiadeira hindu e postais de deuses... A minha sala de agora, bem menor que a de quando eu era bebê, tem também uma parede em homenagem ao Pavão.

Clarisse de Oliveira

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