Ganância

                Eu não sou comunista.Eu não sou socialista.Eu não sou capitalista.
                Eu sou contra a ganância, contra a falta de humanidade, contra os assassinos que pisam na cabeça de outrem para subir na vida.
                Eu sou contra hidrelétricas estourando em cima de população ribeirinha sem aviso prévio e sem prévia evacuação. Que termo usar para denominar quem provoca esse tipo de “imperícia”?
                Eu só conheço um: assassino! Maldito assassino! Porque mata inocentes, pessoas que estão em casa, vivendo suas humildes vidas sem nada querer a não ser paz e uma vida simples e digna, dedicada à natureza e ao amor.
                Que absurdo! Onde o homem chegou?
                E o homem chega a isso por ganância; por desejo de poder e de dinheiro.
                Eu não tenho amigos na mídia. Eu não sou uma poderosa jornalista. Ainda bem! Porque senão faliria as empresas onde trabalhasse; diria a verdade sempre. Não pintaria a realidade de acordo com os interesses dos patrocinadores. Poria logo “fogo na fundanga”!
                Por isso não exerço mais a profissão. Ela não existe mais ( salvo raras exceções). A ser cabo mandado, marionete, prefiro ser professora e formar novas cabeças em sala de aula: mais humanas, mais bondosas, menos consumistas e gananciosas.
                Prefiro ensinar os limites; tentar mostrar até aonde podemos ir e aonde não devemos ir, em nome do “bem-estar”.
                Tomara que eu tenha sucesso! Algumas das sementes que plantei germinarão, com certeza, porque jamais fiz isso por dinheiro ou por poder.Fiz, porque sentia que era necessário; porque era a parte que me cabia fazer para tentar resgatar o ser humano decaído e expulso do paraíso.
                Prefiro ajudar a salvar esse paraíso que nos foi dado em substituição e que também é tão perfeito a nossos olhos, que nos parece o verdadeiro paraíso.
                Quando olhamos para um rio como o Corrente, no planalto Central Brasileiro, para sua mata ciliar, para suas cachoeiras, quando convivemos com toda essa realidade indescritível, sentimos Deus e nos apaixonamos para sempre, irremediavelmente! Somos parte de Deus! Somos quase que perfeitos se conseguimos sentir aquela beleza em nossas entranhas. Foi o que aconteceu com nossa família, por três gerações.
                Até 30 de Janeiro de 2008 quando destruíram a Cachoeira das Andorinhas.
                Essa cachoeira, no Rio Corrente, em Goiás, tinha mais de 100 metros de largura por 12 de altura: um espetáculo paradisíaco!
                Lá, aos seus pés, ficava a sede da fazenda Curral de Pedras.
                Dia 30 de Janeiro o homem fez papel de Deus usando seu livre arbítrio e destruiu tudo: quebrou toda a cachoeira, soterrou-a com pedras imensas, varreu do mapa a sede da fazenda e destruiu duas RPPNs existentes no local. Acabou com a mata ciliar do Rio Corrente por quilômetros e assoreou o rio todo. Matou fauna e flora sem piedade. Pôs em risco centenas de vidas humanas. Desabrigou famílias que não tem agora para onde ir.
                E essa, é só mais uma história comum.
                Todos os dias estamos vendo histórias parecidas nos jornais e nas TVs.
                É a banalização do genocídio, da tragédia, da destruição da natureza.
                Tudo em nome da ganância! Mas quem liga?
                Gaia liga!
                E fará justiça cedo ou tarde; podem crer!

Rita Velosa

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