Paraíba abandonada
Vivo na Paraíba por opção. Sempre gostei daqui e aqui sou feliz do meu jeito. Mas não dá pra aceitar a incúria como as coisas aqui são tratadas. Passo a relatar um descaso que vivi ontem (01 de setembro) e que muitos de nós paraibanos vivemos todos os dias. E espero que se alguma autoridade existente no Estado venha a tomar conhecimento desse relato, que tome as providências cabíveis. Pois se as autoridades ditas competentes querem os cargos, deveriam pelo menos querer o encargo do cargo. Pois o descalabro administrativo toma conta do Estado em todas as áreas. Chega de tanta falta de providências por parte de quem tem a responsabilidade de tomá-las.
Ontem fui a Caruaru para resolver um problema familiar. Sai de casa às cinco e meia da manhã. Mas só consegui embarcar às sete horas para Recife, na descuidada e mal cheirosa rodoviária que temos. Tive a péssima idéia de tomar um café por lá. Fui mal atendido, cobraram caro e a comida de qualidade discutível. Mas o pior ainda estava por começar. A Empresa Bonfim me vendeu uma passagem pelo valor de R$ 24 reais, com o argumento de que o ônibus era executivo. E logo descobriria o porquê do executivo. Realmente a sujeira e a má conservação do ônibus dizem tudo. Sem falar nas televisões e no som ambiente que não funcionavam. O motorista acelerava o carro e o barulho da aceleração ressoava dentro do ônibus. Apenas o ar-condicionado gelado funcionava. Para desespero de alguns passageiros literalmente incomodados com o frio.
Deu sete horas e nada do ônibus da Bonfim chegar para o embarque. As sete e cinco chegou o ônibus da Bonfim na rodoviária e foi direto para o desembarque. E logo após – pasmem – saiu do desembarque para o embarque. Ou seja, era o mesmo ônibus que tinha acabado de chegar de Recife. Depois da surpresa e todos devidamente embarcados, saímos às sete horas e vinte minutos. Um atraso de vinte minutos. Mal saímos da cidade e o danado do ônibus não podia ver um poste que parava para pegar passageiros. Chegando perto da cidade do Conde, o ônibus parou no Posto de Gasolina e literalmente encostou na bomba de óleo diesel e abasteceu o tanque. Nunca tinha visto isso antes em toda minha vida de viajante de ônibus de linha. Claro, depois de esperar uns dez minutos para que o frentista terminasse de abastecer o caminhão que já estava na fila.
Voltamos pra estrada e agora paramos de novo para que o pessoal do serviço de bordo – lembre-se que o ônibus é executivo – e uma cobradora com cara de sono que foi acordando todo mundo no maior mau humor para pedir a passagem. Pra encurtar a nossa conversa, depois de várias paradas pelo caminho, chegamos ao terminal rodoviário de Recife às sete horas e vinte e cinco minutos. Fui ao box das ‘empresas' saber que horas tinha o último ônibus para João Pessoa e descubro que o último sai às dezenove e trinta da noite. Imagine você que uma capital como João Pessoa só tem ônibus até esse horário. Significa dizer que qualquer paraibano desavisado que chegar a Recife depois desse horário vai ter que dormir na rodoviária.
Ai lhe faço a seguinte perguntinha: imagine o que os turistas devem achar desse tratamento todo? Mas, por falar em ‘turismo' ai vamos ter que entrar em outra seara de descasos. Onde o ‘must' turístico do momento, estampado em jornais da cidade, são um bugre rosa para passeios gays e um campeonato de surf pelado em Tambaba. É realmente estamos precisando rediscutir a Paraíba. E olhe que as melhores saídas hoje não são nem a rodoviária fétida e nem a paradinha de avião que teimam em chamar de Aeroporto Internacional Castro Pinto (ai!!!). Deve ser porque fica na cidade ‘francesa' de Bayeux. É a única explicação que encontro para aquele inusitado e inadequado equipamento. O único aeroporto do mundo onde não vemos nem a decolagem e nem o pouso do avião.
Pobre Paraíba abandonada. Teus filhos merecem mais respeito.
Ivaldo Gomes