Mater feijão
Parida da guerra, amarga o florescer do fim, novos tempos, com feijão e farinha, bolinho de dois molhado no molhinho dividido por tantas bocas que pudesse silenciosamente ocupar.
Lágrimas em castas não dissolvem as dores da ausência de direitos, concreta posições do mulatinho feijão.
Alianças oligárquicas posicionam o poder do branco feijão, dos engenhos falidos do litoral ao sertão.
Rádio ecoam nas fachadas de seus casarões crivados do frágil poder decadente, recende o feijão fradinho, em súplicas da manutenção das aparências, mães que lutam por cheios pratos, sonham com o amanhã melhor.
Radiola que se repetem os mesmos textos de um contexto sombrio, guarda nas entranhas o negro vinil, feijão preto dos morros que labutam oportunidades, sambam pra subir o asfalto descendo do morro para seguir mais alto nas escada invisíveis do capital frio que compram e vendem em pacotinhos felicidade. Feijão com arroz, pratos que se repetem nas bocas saciadas corações em espetos, temperados com sonhos, peitos grelhados na realidade.
Cd prata reluzente das voláteis chances de projeção cinco minutos de fama, melhor que uma vida inteira de exclusão, fracionadas oportunidades em massas heterogêneas, toma feijão macassa, mata a fome das massas anestesia multidões.
Feijão arroz e farinha enche as panças, esquece as tantas dores de leis que não pegam, de regras só para alguns, de direitos negados apenas listados em compêndios esquecidos dos homens indivíduos.
Feijão fava, amarga do dia de todos os dissabores, faz volume no bucho, amassado pra facilitar a deglutição.
Feijão com arroz, fogão de lenha, carvão, gás, panela elétrica, tanto faz, se foi outra geração com arroz e feijão evolução? Aprendizagens feijão com arroz.
Direitos feijão com arroz deveres arroz com feijão.
Feijão de mulher trabalhadores, sem tempo com filhos infinitos, sem arroz mãe que abandonam as proles aos cuidados da pátria sem compaixão.
Feijão com farinha a própria sorte, qual o futuro das novas gerações.
Feijão com arroz, arroz com feijão construímos o amanhã dessa singular nação.
Gleise Costa