Mata o velho
Desesperada com o desmazelo e a incontinência do patriarca, nos seus quase noventa anos, a família decidiu contratar babá para livra-lo do mau cheiro e da falta de asseio. E lá apareceu uma menina pobre do interior, que ainda trazia encantos rústicos do campo, e veio cuidar do velho. Operou o milagre. Ele deixou de andar sujo e mau cheiroso. Passou a aparecer limpo, banhado e perfumado. E, mais que isto feliz.
Os familiares só estranharam que ele vivesse pedindo dinheiro a filhos, genros e netos que visitavam embora soubessem que os proventos de aposentadoria eram rigidamente controlado pela filha em cuja casa ele se abrigava.
Ia tudo no melhor dos mundos quando ela, um dia, saiu mais cedo do trabalho e veio para o lar. Ao entrar no quarto do pai, sem aviso, deparou se com o melhor dos mundos. Ele era objeto de beijos carinhosos e persistentes da baba que lhe pretendia ressuscitar a energia e o prazer dantanho. Foi um Deus nos acuda. A moça abriu um berreiro que despertou a atenão da vizinhança.
Habituada à rotina papai-mamãe de seu amor burocrático, a filha proclamou-se escandalizada, não podia ver aquilo em sua casa e, depois de dar esfregadela no pai, despachou a moça de volta,ao interior e pobreza. E passou a se gabar de campeã da moralidade entre outras mal amadas.
O pai voltou à sujeira e à tristeza de antes. Acometeu lhe tristeza funda que o levou a morte, dois, três meses depois.
Ao ver a filha debulhada em prantos no seu velório, fiquei pensando se ela chorava a perda do pai ou o remorso que sentia por haver obstado, com tanta violência, a tentativa e o sonho de prazer de seus últimos dias.
Lustosa da Costa