HÁ COMO SITUAR O HOMEM PÓS-MODERNO?

Um dia desses vindo de São Paulo, na ponte aérea, um artista fez-me esta pergunta. Além de ser uma pessoa simpática, o seu questionamento avivou o constante desejo de ter um bom diálogo e deixar o tempo fruir com prazer. A indagação cercou-me de vaidade porque o companheiro que se sentou ao meu lado possui relevante trajetória no circuito da arte é educado e discreto no vestir. Aproximadamente, um mês atrás, nos cumprimentamos em uma pretensiosa e hermética coletiva em Porto Alegre do qual ele fazia parte. Por prudência, creio não pediu a minha opinião sobre a coletiva no Sul.
Para ser mais objetivo preferi transferir à questão enfocando o material que tinha em mãos, antes situei o atual Ser como um hiper valorizador do individualismo a ponto de filosoficamente criar o neo-individualismo. As sociedades pós-industriais onde a tecnologia e a ciência se mesclam programam o Homem nos seus mínimos detalhes, falei com palavras mais simples sobre esses tópicos. A partir daí, pedi-lhe que olhasse para os passageiros próximos a nós os que se aproximavam através de detalhes, vestimenta e ferramentas tecnológicas de um jogo personalizado. Com muita facilidade conseguiu agrupar as pessoas. O celular, computador, fones nos ouvidos, marcas de grifes. O restante era excluído. – Olhe para nós, não estamos excluídos? finalizei.
Sorriu com certa ressalva nos gestos da boca. Arrematando montei a análise de um acervo de estátuas móveis decorada pelo narcisismo, consciente ou não. O mais importante era a meu ver separar essa roupagem do interior, ou seja os valores reais formativos de uma personalidade. Sabia que começava a gerar uma polêmica e sentia despertar nele, através dos seus olhos brilhosos e arregalados, todos em cima da reflexão do sistema que afeta a todos nós um incomodo saudável. As grandes populações mesmo as mais privilegiadas crescem sem referências, são repetitivas e as novas atitudes têm como pretensão substituir as tradicionais, fazer rupturas não é o que desejamos para apresentar o novo? Substituir não significa acrescentar.
Para culminar há uma deserção do social vista numa fuga de legitimar o descompromisso. – Meu caro é um dos suportes do pós modernismo. O aqui e agora é o que conta, entregar-se à sedução, bem a sedução leva ao desejo e este pelo visto ficará para outra oportunidade. O anúncio luminoso pede para atarmos o cinto, pelo menos temos agora a certeza de estar pousando.

Vicente de Percia

Marcelino Rodriguez

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