VIII

                  Numa cadência robotizada, numa ordem unida de perfeita sincronia militar, o homem-engrenagem parcha para mover o mundo. Com olhos fitos num futuro negro, o coração mecânico coxeia em ávidas batidas industriais.
                  Sua danã nas fábricas marca o compasso de seu regresso: uma dança métrica e perfeita, ele não deve sair do ritmo absoluto e cair na desarmônica do pensamento ruidoso. (Se ele pensar, pode descobrir que o mundo que ele põe em andamento não gera para si!).
                  Antes que nos emudeçam por completo, que instalem em nós carbonizadores e filtros, devemos protestar - mesmo sabendo que, do contrário, a vida prosseguirá. Antes que nos padronizem e alojem fios em nosso rabo, antes que nos maquinizem e adaptem bombas injetoras em nosso peito, devemos resistir!
                  Sem um povo, um limite territorial pode ser, facilmente, trocado por uma cerca de arame farpado ou um curral de madeira. De imediato, deve-se resistir com bravura - mesmo sabendo que, se não houver resistência, a vida prosseguirá.
                  Antes que nos pilhem por completo, devemos armar barricadas na noite e saber que só de pão e água o homem pode, perfeitamente viver. E, se não houver resistência, o que irá seguir, dificilmente poderá ser chamado de vida!

Rafael Nolli

Do livro: Memórias à beira de um estopim, Editora Araxá, 2005, MG

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