BILHÕES DE SÓIS
Existem bilhões de pessoas no mundo, cada uma com suas características, suas virtudes e seus defeitos. Em sua infinita sabedoria, Deus nos fez semelhantes, mas nunca iguais.
O problema é quando esquecemos nossos defeitos e passamos a nos julgar perfeitos; quando acreditamos que para trocar uma lâmpada basta segurá-la, que o mundo girará a nossa volta; é quando adquirimos algumas características comuns aos vampiros, como crer que somos capazes de penetrar no íntimo das pessoas e conhecê-las profundamente, adivinhando seus pensamentos, seu caráter e seus defeitos, sem enxergarmos nossa própria imagem no espelho; é quando passamos a sofrer de um estranho tipo de amnésia seletiva, que nos faz lembrar de tudo o que acreditamos que fizeram contra nós, com o requinte empírico da matemática do rancor, mas, estranhamente, esquecemos de tudo o que porventura fizemos de mal para os outros; é quando somos infinitamente condescendentes conosco e implacáveis com os demais.
Nossa experiência é a melhor! Nossa dor é a maior! Nossas conquistas são memoráveis! Mesmo que tenhamos que lembrar os outros constantemente delas... Nossa liderança é a mais justa! Nossa presença é indispensável! Se estivermos felizes, o mundo todo deve celebrar! Mas, se ficarmos tristes o universo deve ser solidário...
Existem, até, algumas frases sintomáticas desses estados de espírito:
"- O mundo não é justo!", quando não alcançamos o que queremos;
"- Que bom, pra você!", quando alguém compartilha conosco uma felicidade que não nos abrange ou interessa;
"- Como você é uma pessoa inteligente, há de convir comigo que...", quando queremos constranger quem não concorde conosco, sobretudo frente a outras pessoas.
Também é comum condicionarmos a qualidade das amizades a sua capacidade de seguir nos passos, gostos e crenças.
Nos raros momentos em que nos propomos uma auto-reflexão, temos dificuldade de identificar o que nos leva a essa condição. Seriam traumas, frustrações, medos ou o quê? Normalmente, a culpa é dos outros. No limite, chegamos a pagar para tentar encontrar essas respostas.
Bastaria, no entanto, lembrarmos que seres humanos, todos sujeitos aos ciclos da vida; entendermos que somos parte de um concerto para o qual a orquestra deve estar sempre mais harmônica e afinada; reconhecermos que nela cada instrumento tem seu momento de brilho e cada música tem sua nuance; e realizarmos que insistir na mesma música ou no mesmo solo conduz à monotonia e destrói o encanto do conjunto.
Não se trata de renunciar ao amor-próprio, pois mesmo existindo bilhões de sóis, cada um é único! Tudo é uma questão procurar preparar-se tanto para o clássico quanto para o improviso e de estar sempre pronto e disposto a encontrar o tom e o compasso da vida!
Adilson Luiz Gonçalves