Segredos das roseiras
Certa ocasião, era jovem, mas até hoje ainda me lembro, li que as roseiras têm estranhos mistérios.
Não dei maior atenção ao fato, mas nunca o esqueci. A curiosidade aumentou quando soube da mística Rosa de Ouro, uma das representações da alma completa. Segundo velhas tradições orientais e ocidentais, é uma rosa de quatro folhas, abertas num mesmo plano. Simboliza o Todo, a Essência.
Como tenho facilidade de entalhar, peguei formões e goivas, madeira bem seca e iniciei um trabalho. Tosco no início, ganhou formas que eu mesmo duvidei, à medida que entalhava. A rosa surgia, por si só, cada vez mais bela.
Não me perguntem a causa; jamais descobri. Sei apenas que não tinha habilidade ou arte para conseguir o resultado final, que ocupa uma das paredes da minha sala e merece elogios. Acontece que não sou entalhador, aprendi o trabalho sozinho e reconheço que minhas mãos são bastante limitadas com as goivas.
Se o trabalho saiu bonito, na minha pouca compreensão deste mister, é porque foi feito com calma e carinho. Todo o resto é por conta da rosa mesmo, que se completou independente da minha vontade.
O fato não se acaba. Fosse apenas isto, eu entenderia como um golpe de sorte. Por conta do meu entalhe, acabei ganhando quatro mudas de roseiras silvestres, simples, mas nem por isso menos bonitas que suas efêmeras irmãs graúdas. Plantei no barro, como manda a boa técnica.
Cultivei as mudas que se acabaram transformando em adultas. A partir daí, começa o mistério das roseiras. Em todos os momentos importantes, não cessam de nos presentear com um botão, em épocas significativas.
Fiquei conhecendo o maravilhoso mundo das flores. Fiz uma intervenção cardíaca para eliminar uma taquicardia por excesso de nervos no coração. Feita por via femoral, os riscos são mínimos, e os nervos seccionados por ondas de rádio. Sucesso absoluto, fiquei no hospital apenas vinte e quatro horas, e benditas sejam as mãos e o conhecimento do jovem cirurgião. Taquicardias nunca mais.
Quando retorno para casa, encontro uma linda rosa, cujo botão não foi visto. Mas a roseira não se esqueceu do seu amigo.
Finalizando: faço aniversário breve. As roseiras, sabedoras do assunto, deram-me um presente. Todas elas! Enfeitam-me a sala...
Jorge Cortás Sader Filho