O Brasil e a crise de Honduras

A crise de Honduras e a posição do Brasil a respeito, obriga a algumas reflexões que sinto necessidade de partilhar. Difícil começar um escrito que revive e remove lembranças muito dolorosas para muitos de nós, latino-americanos. Tempos do terror em toda parte. Tempos de morte, de ameaças de morte, sequestros, mentiras, desaparições, corrupção de todos os tipos, genocídio, campos de concentração, impunidade. O Brasil volta seu olhar para os tempos da ditadura. Argentina com dificuldade tenta encontrar caminhos de justiça nesse processo. No Chile e no Uruguay, as dificuldades não são menores. Quando em Honduras se instala uma nova ditadura militar, e o Brasil assume uma postura clara na defesa da vida das pessoas que enfrentam de mãos limpas as forças do terror, é necessário se perguntar, como Lula o faz, onde esta a ordem internacional. Onde a OEA, onde a ONU. Muito longe. Também estiveram longe, com escassas exceções, quando o alvo do terror era a nossa gente, nós mesmos, não muito tempo atrás, apenas 33 anos atrás, para dizer apenas do caso argentino. O presidente do Brasil pede uma democratização das Nações Unidas, e isto é imprescindível. Não é possível que no organismo se perpetue a hegemonia da divisão do mundo em blocos de poder que sucedeu à última guerra mundial. América Latina cria a Unasul como modo de se consolidar como um bloco, ainda em processo de construção. A fragilidade das organizações internacionais na defesa dos direitos humanos, da estabilidade democrática em Honduras, a sua subserviência a obscuros interesses dos grupos de poder, da direita mais retrógrada, aquela que mata, que prende e arrebenta, cuja presença infelizmente ainda se faz notar fortemente na vida de tanta gente no Brasil como no mundo, chama a atenção para a necessidade de virmos a reforçar a rede de pessoas e movimentos que, ao redor do mundo, trabalham dia e noite, além de barreiras ideológicas, no reforço da autoestima de pessoas e comunidades, na preservação da vida como bem supremo, na defesa da justiça e da paz como condições imprescindíveis para a existência humana.

Rolando Lazarte

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