Súbito adormecer
É como se o mundo diante dos meus olhos estivesse desmoronando. E o peito em desespero palpitasse suicídios. As coisas mudaram. Ao meu redor escombros e lembranças. Ao meu redor um vazio e pretéritos em páginas de um diário rasgadas. Sou estas vozes e imagens que rasuram os cômodos e mobílias de uma casa impregnada de silêncio. Uma taquicardia de receios.
Das incógnitas não há mais o riso. Há vasilhas, restos de comida e varejeira. Há os cães que histéricos atrás de carros correm. Há a palidez da chuva polvilhando as telhas das casas, as atenas, as janelas, as binárias calçadas. Não há mais o riso. Nem mesmo a paixão com suas vertigens e etiquetas. É como se de vez o mundo estivesse desmoronando. E em si, neste súbito labirinto, os prazeres não fossem mais que uma cidade de Playmobil, um simples entretenimento que me entedia.
Não sei mais do amor. Inexato e doloroso. Não sei mais do amor. Conheço naufrágios, somente. A distância que a ferida não estanca. Conheço as incuráveis fraturas que a ausência me causou e das causas que em comemorações com velas e mussês de chocolate e torradas a nós nos faziam felizes, infelizmente desconheço. Conheço, sim, por palavras, certidões, por mentiras, o que não sou. Aqui, hoje, meu sobrenome é mais uma cacofônica ilustração deste que sei o que não sou.
Não, não quero suas lamentações. Não, não quero que rabisque, com pesar, meu nome nas listas telefônicas ou reescreva o que não fui nos obituários. Deixe com que eu me perca em mim. Deixe...
E quando eu sair, por favor, apague a luz e feche a porta.
Diego Ramires