Olhares & Olhares
Sentir-se sempre imigrantes em nossos caminhos, eis o elixir da aprendizagem.
Olhos de quem tudo vê, isentos de pressupostos ou conceitos estabelecidos, mantendo a curiosidade natural de quem experimenta pela primeira vez.
Passos deslumbrados de quem realiza a viagem dos seus sonhos...a cada quilômetro, olhos arregalados a sorver as cores que se descortinam em cada movimento do cosmo. Olhos de criança, degustando o brigadeiro tão esperado ou lambuzando-se com um sorvete no mais lindo dia de sol.
À medida que "crescemos", formalizamos os nossos olhares...parece que vamos vestindo-os com um paletó e nos sufocando com o nó da gravata. Olhares sisudos, sorrisos repressores que vão aprisionando a nossa oportunidade de encantamento pela vida...a idade adulta, parece nos levar a comer a vida de garfo e faca!
Os nossos sonhos tornam-se cerimoniosos, e quando falamos neles, logo os classificamos como tolos ou infantis. Justificamos veementemente tudo que não se enquadre no modelo adulto de aprendizagem.
Assim, nossos olhares constróem muros, onde dia após dia, vamos cerceando a criança, que independentemente da nossa aquiescência ou do tempo, existe e resiste num daqueles sótãos da nossa alma. E ela, brinca de ciranda, quando sorrimos displicentemente ao notarmos sua presença...na maioria das vezes, agimos como verdadeiros censores desses momentos, afastando-os de imediato do nosso cotidiano. Quantas vezes, não nos rotulamos ou deixamos que os outros nos designem de infantis ou adolescentes, por um comportamento que faz nosso coração explodir em matizes nunca vistos ou em sons inaudíveis para o universo adulto?
E essa criança, continua a brincar nos nossos parques, cujas portas cerramos com nossos cadeados invisíveis...como criança, ignora os nossos protestos, os nossos "nãos", e rebelde salta muros, quando cochilamos na nossa vigília...aventura-se na montanha russa, quando ousamos e enfrentamos os nossos medos, as nossas resistências...anda de roda gigante, quando desafiamos os nossos limites e nos permitimos olhar a vida como uma possibilidade de aprendizagem e evolução.
Fiquemos atentos a criança que existe dentro de nós...ela anda descalça no nosso coração, sobe em árvores, caminha até a mais alta duna para ver o pôr-do-sol e corre nua pelas nossas ruas em dias de chuva.
Fernanda Guimarães (Nandinha Guimarães)